A DITADURA SUPEREXPOSTA: EXPERIÊNCIAS DO OLHAR SOBRE O PASSADO AUTORITÁRIO NO BRASIL E EM PORTUGAL
Resumo
Tanto em Portugal como no Brasil, os crimes cometidos pelos governos autoritários continuam impunes, e os seus perpetradores livres. A memória desse tempo foi sendo sucessivamente obliterada, reduzida ou desvirtuada, através de formas consensuais de contar a história. Os documentários brasileiros dedicados à recuperação da memória da ditadura de 1964 têm procurado, quer pelo tratamento de material de arquivo, quer pela recolha de testemunhos orais, contornar essa omissão derivada do acesso condicionado aos documentos do período. Por outro lado, o cinema português tem trabalhado os arquivos visuais do regime a par dos testemunhos da resistência, desconstruindo as imagens existentes do salazarismo.Este trabalho pretende explorar o papel que o cinema tem assumido no resgate da memória reprimida, ao denunciar a continuidade de certas estruturas ideológicas e imaginárias na atualidade política, econômica, social e intelectual, que permanecem e se normalizam entre o cotidiano, comprometendo as experiências democráticas conquistadas. A produção brasileira Diário de uma busca (2011) e as produções portuguesas Natal 71 (1999) e Fantasia lusitana (2010) colocam-nos cara a cara com a realidade dupla da nossa atualidade, na qual reconhecemos, debaixo da superfície frágil das democracias em que vivemos, a agitação de uma história que não se encontra encerrada.