O pensamento renano de Gaston Bachelard: conflito ou aliança da razão e da imaginação?

Abstract

A filosofia francesa contemporânea testemunha comfreqüência uma ambivalência com relação à tradição filosóficaalemã. Quais efeitos filosóficos resultam deste encontroentre duas racionalidades que pensam e encaramdiferentemente o mecânico e o vital, a parte e o todo, oindivíduo e a sociedade como relembrou, por exemplo,Louis Dumont? Gaston Bachelard não seria exemplar deuma resolução original, de um estilo singular, resultantede uma torção das tradições, após ter evitado sua fusãocomo sua repulsão? Evidentemente, à primeira vista,uma fronteira, até mesmo um no man’s land, separa juntoa Bachelard a racionalidade científica e a criatividade poética,que se opõem como o dia e a noite, e em algunspontos como a França e a Alemanha ao longo do Reno.Entretanto, suas relações são mais complexas: de quiasmaprimeiramente, visto que a epistemologia científica,após se haver constituído da linha do positivismo francês,empresta muito aos ideais dialéticos românticos e inversamentea criatividade onírica, quase mágica, se deixasituar sob duas categorias lógicas, semânticas e sintáxicaspelo menos. Mas, no final das contas, Bachelard nãoconduz a um tipo de Unus mundus, verdadeiro fundo semfundo, de modo que classicismo e romantismo filosóficos,após terem se oposto um ao outro, em seguida se intercruzado,tornam-se como as duas faces de um psiquismoúnico, comparável a Janus bifrons?