Confinamento
DOI:
https://doi.org/10.21680/2595-4024.2020v3n2ID22630Abstract
Uma crise de saúde mundial mudou os modos de existir radicalmente de uma hora para outra. Ruas antes lotadas se esvaziaram. As conversas, os carros, os aviões, passos acelerados ou preguiçosos, a rotina... tudo se recolheu para o interior das casas. Os espaços foram silenciando cada vez mais enquanto as mentes e corações se angustiavam com as dúvidas, medos, incertezas, ameaças... mas principalmente com as distâncias. O corpo estava aprisionado, temporariamente por tempo indeterminado, numa tentativa de proteger-se a si mesmo e aos outros. Não sabe se mais a si ou se ao outro, ou as vezes até mesmo sem saber ao certo porque. Os antigos sentidos já não cabiam mais na nova realidade pois a existência transformara-se tão radicalmente que a alma ainda tentava achar o seu lugar. Corpo recluso, alma perdida, coração angustiado, mente em tormenta porque a nossa liberdade última é a liberdade de pensamento. Nem sempre podemos escolher o quê irá nos acontecer, mas podemos sempre escolher como vamos lidar com aquilo que nos acontece, com aquilo que nos aconteceu. O corpo então poderia estar preso, confinado, mas por carregar em si a bagagem de todas as experiências até então vividas, todas as memórias de mundo, escolhe não se render. Escolhe ser resiliente. Então abre a mala, respira, se permite sentir, se recolhe em sua interioridade para continuar encontrando sentido e assim poder seguir em frente.
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Copyright (c) 2020 Manzuá: Revista de Pesquisa em Artes Cênicas
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