PELA DESCOLONIZAÇÃO DO TEATRO-EDUCAÇÃO: APRENDER A APRENDER COM OS POVOS ORIGINÁRIOS DA AMÉRICA LATINA

Autores

  • Lígia Marina de Almeida Doutoranda - Programa de Pós-Graduação em Teatro/UDESC

DOI:

https://doi.org/10.21680/2595-4024.2018v1n2ID15012

Resumo

Este artigo busca compartilhar a pesquisa de doutorado que desenvolvo atualmente, que, enquanto conteúdo pretende continuar minha pesquisa, iniciada no mestrado (e muito antes dele) em relação a imagens da luta dos povos originários do Brasil, que envolvem algum tipo de representação, contra os processos colonizatórios, em curso há mais de 500 anos, que prevêm sua (nossa) total extinção. Para dar conta de tal conteúdo de pesquisa, é necessário uma certa revisão da forma de fazê-la. Se aprendemos com Hegel (via Peter Szondi) que forma nada mais é que um “conteúdo enformado” pesquisaremos também, então, uma forma de pesquisa e compartilhamento público da mesma que vá de contra a esses mesmos processos colonizadores. Assim, proponho outras formas de apresentação do material a ser pesquisado, uma espécie de “anti-tese” já que, em minha pesquisa de mestrado, notei que a forma “escrita acadêmica” está historicamente intimamente ligada com os violentos processos coloniais, a saber: um pequeno livro de imagens luta dos povos originários compreendida entre 2013-2018, inspirado no modelo de ação proposto por Bertolt Brecht em seu livro ABC da guerra; um documentário com o ponto-de-vista  sobre o corpo, o simbólico, a luta das lideranças dos povos originários do Brasil que aparecem nas imagens que coletei no mestrado e que formarão o ABC da luta dos povos originários; confecção e publicação de textos em periódicos na área das artes cênicas; perfo-palestras apresentadas por mim durante o processo e também um processo artístico-pedagógico baseado nesses materiais, em escolas estaduais indígenas aonde os riscos de aniquilamento desses povos originários são altos e também junto a não-indígenas, principalmente estudantes de cursos de Artes Cênicas no Brasil. Parte da “anti-tese” também se dá com a criação de estratégias de fortalecimento financeiro da luta dos povos originários com a utilização da arte para tal fim.

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Biografia do Autor

Lígia Marina de Almeida, Doutoranda - Programa de Pós-Graduação em Teatro/UDESC

Juma gitIRAna Marruá da Selva e Piratininga X teve que mudar de nome por perseguições a ela na internet, perseguição violenta e muitas ameaças por conta de uma performance realizada, segundo ela, anti-catequética. Lígia TRANSicionou, e TRANSiciona dia-a-dia. Alguns povos originários tem a tradição de se “rebatizar” em distintos momentos da vida. Assim virei Juma, a mulher que vira onça da teledramaturgia da década de 90 que assistia quando criança e da vida vivida no Pantanal quando adulta, Juma é uma encantada da mata, semelhante a uma curupira, na cosmogonia de alguns povos originários amazônicos e também é um povo originário rexistente dessa mesma região. GitIRAna é uma trepadeira, erva usada relacionada a banhos no ritual da Jurema e IRA é mel em tupi, um grupo separatista europeu (pra provar que não tenho nada de contra os europeus e sim à hegemonia) e também um sentimento recorrente em mim, que precisa ser organizado junto à outres companheires que também o sentem, o que os zapatistas denominam de “digna raiva”. Marruá é a vaca que debanda do gado e passa a viver como selvagem na mata. Da Selva, porque meu pai adotivo, que eu considero como meu pai é “só mais um Silva” mas brilha em homenagem no meu coração. Piratininga porque é o nome tupi da região que nasci e cresci, a quarta cidade brasileira com o maior número de indígenas do país, São Paulo. X porque aprendi com Malcolm X que ancestralidade não tem a ver com um passado a se resgatar, mas um futuro a ser inaugurado. Não sei de que povo originário descendo, minha ancestralidade é sem origem, mas meu futuro será desenhado desse presente em que luto contra o sistema político-econômico colonial, este que apagou minha origem.

Referências

ALMEIDA, Lígia Marina de. “Nós fizemos isso para vocês, brancos, saberem que nós existimos!”: imagens de luta dos povos originários do Brasil (2013-2015). Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Mestrado em Teatro, Florianópolis, 2016.

BRECHT, Bertolt. ABC de la guerra. España: Ediciones del Caracol, 2004.

GUERRA, Ciro. Abraço da Serpente. Bufalo Films, 2015 (125 min), color. Título original: El abrazo de la serpiente . Disponível em: <http://www.filmesonlinehd1.com/assistir-online-o-abraco-da-serpente-hd-720p-legendado/#data>. Acesso em: 05/06/2016.

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Publicado

01-02-2019

Como Citar

ALMEIDA, L. M. de. PELA DESCOLONIZAÇÃO DO TEATRO-EDUCAÇÃO: APRENDER A APRENDER COM OS POVOS ORIGINÁRIOS DA AMÉRICA LATINA. Manzuá: Revista de Pesquisa em Artes Cênicas, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 50–64, 2019. DOI: 10.21680/2595-4024.2018v1n2ID15012. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/manzua/article/view/15012. Acesso em: 21 nov. 2024.