Escassez, abundância e devir: uma questão para refletir sobre a etnologia indígena no sertão nordestino

Autores

  • ALEXANDRE ferraz HERBETTA Universidade Federal de Goiás

Resumo

Resumo: Este texto busca refletir sobre apenas uma questão, bem importante, no campo de estudos da etnologia indígena do sertão nordestino, qual seja: em que medida a supervalorização de conceitos e categorias antropológicas, como identidade étnica, por exemplo, produz um conhecimento enviesado e reduzido sobre populações humanas complexas. Desta maneira, problematizam-se algumas noções basilares para a formação deste campo de estudos, como a ideia de que falta algo a estas pessoas, no caso alteridade, e a pretensa homogeneidade cultural entre indígenas e não indígenas. Ambas as noções são relacionadas à colonialidade do saber, que no caso, atua para deslegitimar pessoas eximindo o estado-nação de suas responsabilidades e liberando o território para a exploração capitalista. Por fim, propõe-se pensar sobre as implicações das repostas da disciplina antropologia para o cenário que se pode observar na região e, num breve exercício teórico, imagina-se a possibilidade de outras antropologias, dentre elas uma antropologia indígena do sertão.

Palavras-chave: etnologia indígena; sertão; identidade; devir; complexidade

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

ALEXANDRE ferraz HERBETTA, Universidade Federal de Goiás

Doutor em Antropologia pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003) e mestrado em Antropologia Social pela mesma instituição (2006). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Goiás. Atua no Curso de Licenciatura Intercultural - Núcleo Takinahaky e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Tem experiência na área de Antropologia e Educação, com ênfase em Etnologia Indígena, Política e Artes. É vice-coordenador do Curso de Especialização em Educação Intercultural e coordenador do projeto "Novas práticas pedagógicas" junto ao PIBID-Diversidade.

Referências

ACIOLI, Moab Duarte. O processo de alcoolização entre os Pankararu – um estudo em etnoepidemiologia. Tese. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, UNICAMP, 2002.

ALBUQUERQUE, Marcos Alexandre. O Regime Imagético Pankararu – tradução intercultural na cidade de São Paulo. Tese. PPGAS, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil, 2011

AMORIM, Siloé Soares. Os Kalankó, Karuazu, Koiupanká e Katokinn: resistência e ressurgência indígena no Alto Sertão alagoano. Tese. PPGAS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 2010.

AMORIM, Paulo Marques Pires.. Índios Camponeses: Os Potiguara da Baía da Traição. Rio de Janeiro:. Dissertação de Mestrado. PPGAS, Museu Nacional, 1971

ARRUTI, José Andios. A árvore Pankararu. Em: Oliveira, João Pacheco de (org.). A viagem de volta: etniciade, política e reelaboração cultural no nordeste indígena. RJ: Contracapa, 1999.

ASSUNÇÃO, Luiz carvalho de. O reino dos encantados, caminhos, tradição e religiosidade no sertão nordestino. Tese. Programa de pós-Graduação em Ciências sociais da PUC. Doutorado em Antropologia. São Paulo, 1999.

BARBALHO, José Ivamilson. Discurso como prática de transformação social: o político e o pedagógico na educação intercultural Pankará. Tese. Programa de Pós-graduação em Educação. Universidade Federal de Pernambuco., 2012.

BARBOSA, Wallace de Deus. Pedra do Encanto – dilemas culturais e disputas políticas entre os Kambiwá e os Pipipã. Rio de Janeiro: ContraCapa, 2003.

BARCELOS. Lusival Antonio. Práticas educativo-religiosas dos índios Potiguara da Paraíba. Tese. Programa de Pós-graduação. em Educação. Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2005.

BARO, Roulox; Moreau, Pierre. História das últimas lutas no Brasil entre Holandeses e Portugueses e Relação da Viagem ao País dos Tapuias. São Paulo: Editora da USP, 1979 [1647].

BARTH, Fredrick.. Ethnic groups and boundaries – the social organization of culture difference. London, Allen & Unwin, 1969

CADENA, Marisol de la. The production of other knowledges and its tensions: from andeanist anthropology to interculturalidad? The journal of world anthropology network. 2005 (1), pp. 13:33.

CASCUDO, Luis da Câmara. Folclore do Brasil (pesquisas e notas). Editora Fondo de Cultura, 1967.

CASCUDO, Luis da Câmara. “toré” (verbete). Em: Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Melhoramentos, 1979.

CIMI. Outros 500 – construindo uma nova história. São Paulo: Editora Salesiana, 2001.

CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. RJ: Editora da UFRJ, 2002.

CUNHA, Maximiliano Carneiro. A música encantada Pankararu - toantes, torés, ritos e festas na cultura dos índios Pankararu. Dissertação. Mestrado em Antropologia Cultural, Universidade Federal de Pernambuco., 1999

DÂMASO, Pe. Alfredo Pinto. O Serviço de Proteção aos Índios e sua Obra. Em: O Índio Brasileiro. Rio de Janeiro: Casa Mattos, 1935, pp. 188-192.

DANTAS, Sérgio Neves. Sou Fulni-ô, meu branco. Tese. Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, 2002.

DIETZ, Gunther; MATEOS CORTÉS, Laura Selene. Interculturalidad y educación intercultural en México. Un análisis de los discursos nacionales e internacionales en su impacto en los modelos educativos mexicanos. México: Secretaria de Educación Publica (SEP), 2011.

FÁVARO. Thatiana Regina. “Perfil nutricional da população indígena Xukuru de Ororubá, Pernambuco, Brasil”. Tese. Doutorado em Ciências na área de Saúde Pública. FIOCRUZ. 2011.

FERNANDES, Gonçalves. O Folclore Mágico do Nordeste – usos, costumes, crenças & ofícios mágicos das populações nordestinas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.

FOTI, Miguel. Uma etnografia para um caso de resistência – o ético e o étnico. Em: Santo, Marco Antônio do Espírito (org.). Política Indigenista – Leste e Nordeste Brasileiros. Brasília: FUNAI, 2000.

GLEBSON VIEIRA, Jose. Amigos e competidores: política faccional nos Potiguara da Paraiba. Tese. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social. Universidade de São Paulo. 2010.

GOLDMAN, Marcio. A relação afroindígena. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 23, p. 1-381, 2014.

GRUNEWALD, Rodrigo de Azeredo. Toré – regime encantado dos Índios do Nordeste. Pernambuco: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2004.

GRUNEWALD, Rodrigo de Azeredo. Os ‘Índios do Descobrimento’: Tradição e Turismo Tese. Universidade Federal do Rio de Janeiro Museu Nacional Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 1999.

HERBETTA, Alexandre. Cultura viva – modos de descolonizar a caatinga a partir da relação entre flores e pássaros. Revista Tellus. Ano 17. n. 34, set/dez 2017.

HERBETTA, Alexandre. Peles braiadas – modos de ser Kalankó. Recife: Massangana, 2015.

HERCKMAN, Elias. Descripção geral da Capitania da Parahyba. Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, tomo V, n. 31, p. 239-288. Recife: Typographia Industrial, 1886.

HOENTHAL Junior, William D. “Notes on the Shucurú Indians of Serra de Ararobá, Pernambuco, Brazil. Em: Revista do Museu Paulista, v.VIII. São Paulo. 1960.

LANDER, Edgardo. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires, Argentina: CLACSO, set. 2005. Colección Sur Sur, p. 21-53.

LEACH, Edmund. Sistemas Políticos da Alta Birmânia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. Tradução: Antônio de Pádua Danesi, Geraldo Gerson de Souza, Gilson César Cardoso de Souza, 1996 (1964).

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976

LOPES, Fátima Martins. Em nome da liberdade; as vilas de índios do Rio Grande do Norte sob o Diretório pombalino no século XVIII. Tese. Programa de Pós-graduação em História, UFPE, 2005.

MONTE, Edmundo; SILVA, Edson. Índios no Nordeste: informações sobre os povos indígenas. 2012. <http://www.indiosnonordeste.com.br>. [Acesso em: 27/abril/2018].

NASCIMENTO, Rita Gomes. Rituais de resistência – experiências pedagógicas Tapeba. Tese. Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRN., 2009

NEVES, Rita de Cássia M. Identidade, Rito e Performance no toré Xukuru. Em: Grunewald, Rodrigo de Azeredo. Toré – regime encantado dos Índios do Nordeste. Pernambuco: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2004.

NIEUHOF, Joan. Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil – confronto com a edição holandesa de 1682. São Paulo: Martins, 1942 [1682].

MURA Cláudia Mura. "Todo mistério tem dono!": ritual, política e tradição de conhecimento entre os Pankararu. Tese. Doutorado em Antropologia Social.Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2012.

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. Fronteiras étnicas e identidades emergentes. Em: Povos Indígenas no Brasil – 91-95, 1995.

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. MANA 4 (1)1998, pp. 47-77.

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. (Org.) A viagem de volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no nordeste indígena. RJ: Contracapa,1999.

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco. Três teses equivocadas sobre o indigenismo (em especial sobre os índios do Nordeste). Em: Santo, Marco Antônio do Espírito (org.) Política Indigenista – Leste e Nordeste Brasileiros. Brasília: FUNAI, 2000.

OLIVEIRA, Carlos Estevão de. O Ossuário da "Gruta-do-Padre", em Itaparica, e algumas Notícias sobre Remanescentes Indígenas do Nordeste. Em: Boletim do Museu Nacional - Vol. XIV-XVII. Rio de Janeiro, 1938, pp. 155 -183.

OLIVEIRA JÚNIOR, Gerson Augusto de. Torém: brincadeira dos índios velhos. São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1998.

OLIVEIRA, Kelly Emanuelle. Estratégias sociais no movimento indígena: representações erede na experiência da APOINME. Tese. Programa de Pós-Graduação em Antropologia, UFPE, 2010.

PEREIRA, Edmundo. Benditos, Toantes e Samba de Coco – notas para uma antropologia da música entre os Kapinawá de Mina Grande. Em: Grunewald, Rodrigo de Azeredo. Toré – regime encantado dos Índios do Nordeste. Pernambuco: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2004.

PINTO, Estevão. Etnologia Brasileira (Fulni-ô – Os Últimos Tapuias). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956

POMPA, Cristina. Religião como Tradução – missionários, Tupi e Tapuia no Brasil Colonial. São Paulo: Edusc, Anpocs, 2002

POMPEU SOBRINHO. Os Tapuias do Nordeste e a Monografia de Elias Herckman. Em: Revista do Instituto Histórico do Ceará, Ano XLVIII, Tomo XLVIII, Fortaleza, Brasil, 1934 pp. 7/28.

RAMINELLI, Ronald. Habitus Canibal – Os índios de Albert Eckhout. In: HERKENHOFF, Paulo (org.). O Brasil e os holandeses 1630-1654. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999

RAMOS, Alcida Rita. Do engajamento ao desprendimento. Campos 8 (1). 2007, pp. 11:32.

RAMOS, Alcida Rita. UMA CRÍTICA DA DESRAZÃO INDIGENISTA. Série Antropologia. 243. Brasília, UnB, 1998

RIBEIRO, Rosemary Machado. O mundo encantado Pankararu. Pernambuco: Dissertação de Mestrado, PPGAS/Antropologia Social, UFPE, 1992

SILVA, Edson Hely. Xukuru: memórias e história dos índios da Serra do Ororubá (Pesqueira/PE), 1950-1988. Tese. Programa de Pós-graduação em História, Campinas, UNICAMP, 2008.

STEWARD, Julian H. (editor). Handbook of Southamerican Indians. Vol.1. The Marginal Tribes. Smithsonian Institution, Boureau of American Ethnology Washingtons. New York:Coopersquare publishers, inc, 1963.

WALLERSTEIN, Imanuel. Las incertitumbres del saber. Barcelona: Gedisa, 2004.

Downloads

Publicado

31-12-2018

Como Citar

HERBETTA, A. ferraz. Escassez, abundância e devir: uma questão para refletir sobre a etnologia indígena no sertão nordestino. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, [S. l.], v. 5, n. 9, p. 118–154, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/14992. Acesso em: 18 abr. 2024.