Heredogramas e parentesco no Cariri Paraibano

do instrumento biomédico às experiências familiares com Mucopolissacaridoses

Autores

  • Heytor de Queiroz Marques UFRN
  • Ednalva Maciel Neves UF`PB

DOI:

https://doi.org/10.21680/2446-5674.2022v9n17ID27914

Palavras-chave:

Parentesco, Família, Antropologia da Saúde, Doenças Raras

Resumo

Problematizar como a presença das Mucopolissacaridoses e o heredograma mobilizam reflexões acerca do parentesco entre os casais, em que categorias de consanguinidade e ascendente comum estabelecem arranjos diferentes para o entendimento do adoecimento. A etnografia, observação e entrevistas, realizada no Cariri Paraibano, junto às famílias que têm casos da doença genética, buscava entender as relações engendradas entre as famílias e a genética, quando o heredograma estabelece o diagnóstico da enfermidade e a relação de parentesco. Inicialmente, os interlocutores apontam que o heredograma lhes foi apresentado para “comprovar” que existe uma relação de parentesco e o nexo causal da doença. Entretanto, tal instrumento não coincide com a perspectiva sociocultural da noção de parentesco utilizado pelas famílias. Nossa leitura é que o heredograma elaborado pela genética não tem correspondência com as questões locais, quando outros valores, como “conhecimento” entre as famílias e/ou ter origem na mesma localidade, são relevantes para constituição de novas famílias e parentesco.

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Biografia do Autor

Heytor de Queiroz Marques, UFRN

Doutorando em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Mestre em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Graduado em Ciências Sociais (Licenciatura) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Membro do GRUPESSC/UFPB (Grupo de Pesquisa em Saúde Sociedade e Cultura) e GCS/UFRN (Grupo Gênero, Corpo e Sexualidade).

Ednalva Maciel Neves, UF`PB

Professora Titular da Universidade Federal da Paraíba, integrante dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e em Sociologia. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Saúde Sociedade e Cultura/GRUPESSC/UFPB e integrante do MANDACARU - Núcleo de Pesquisa em Gênero, Saúde e Direitos Humanos/UFAL. Integrante da Rede Antropologia e Saúde. Interessada nos temas relacionados à Antropologia e Saúde, às Biossocialidades, ao risco e às práticas de produção de conhecimento.

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Publicado

24-10-2022

Como Citar

MARQUES, H. de Q.; MACIEL NEVES, E. Heredogramas e parentesco no Cariri Paraibano: do instrumento biomédico às experiências familiares com Mucopolissacaridoses. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, [S. l.], v. 9, n. 17, p. 1–26, 2022. DOI: 10.21680/2446-5674.2022v9n17ID27914. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/27914. Acesso em: 11 maio. 2024.