"Os espíritos comem os presentes"

o universo invisível e o curandeirismo no lobolo

Autores

  • Rhuann Fernandes Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

DOI:

https://doi.org/10.21680/2446-5674.2022v9n17ID29215

Palavras-chave:

Lobolo, Espiritualidade, Curandeirismo, Antropologia dos Espíritos

Resumo

Ao realizar uma pesquisa sobre o lobolo no sul de Moçambique — rito tradicional que une conjugalmente duas pessoas, em que a prática essencial envolve dar bens à família da noiva para realizar uma união reconhecida entre os parentes do noivo e os da noiva — testemunhei a constante atuação dos espíritos. Proponho-me, neste artigo, a responder aos seguintes questionamentos: qual é o papel do nyamusoro (curandeiro) na vida social do casal e de seus familiares e como ele exerce contato com os espíritos para abençoar o casal no lobolo? A partir disso, demonstro como os noivos e suas famílias mobilizam o curandeirismo para conversar com os mortos, inclusive para evitar acontecimentos indesejáveis no futuro do casamento.

Downloads

Biografia do Autor

Rhuann Fernandes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Doutorando e Mestre (2022) em Ciências Sociais no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS-UERJ). Bacharel (2019) e licenciado (2021) em Ciências Sociais pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da UERJ. É Pesquisador visitante na Bloco 4 Foundation - Research in Activism, Citizenship and Social Policies, promovendo a construção de espaços de pesquisa sobre ativismo, cidadania e políticas sociais em Moçambique. Além disso, é integrante do grupo de pesquisa interinstitucional Áfricas: Política, Sociedade e Cultura (UERJ-UFRJ) e membro do grupo de pesquisa em Políticas, Afetos e Sexualidades Não-Monogâmicas (UFJF). Sua monografia "Casamento Tradicional Bantu: o Lobolo no Sul de Moçambique", baseada em sete meses de pesquisa de campo em Maputo, foi agraciada com o seguinte prêmio: II Prêmio Giralda Seyferth, de caráter nacional, atribuído no âmbito do IX Seminário de Alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (SAPPGAS), do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ). Os resultados preliminares desta monografia receberam também Menção Honrosa pela Comissão de Jornadas Científicas da Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas da Universidade Pedagógica de Moçambique. No momento, dedica-se às áreas de Estudos Africanos, Sociologia das Relações Raciais e Sociologia das Emoções, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura, subjetividade e emoções; relações amorosas e arranjos conjugais contemporâneos; relações raciais e identidade; espiritualidade; família e parentesco; gênero e sexualidade.

Referências

ASSUNÇÃO, Helena Santos. Falar e guardar segredo: as capulanas de Nampula (Moçambique). 2018. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

AZEVEDO, Aina. “Se você quiser me lobolar”: considerações sobre o lobola na África do sul contemporânea. Cadernos Pagu, n. 45, p. 21-49, jul./dez. 2015. https://doi.org/10.1590/18094449201500450021.

BAGNOL, Brigitte. Lovolo e espíritos no sul de Moçambique. Análise social, n. 187, p. 251-272, 2008.

CABAÇO, José Luís. Moçambique: identidade, colonialismo e libertação. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

COSSA, Dulcídio Manuel Albuquerque. Mhamba ya ukanyi (O ritual de ukanyi): uma tradição na modernidade. Moldova: Novas Edições Acadêmicas, 2019a.

COSSA, Dulcídio Manuel Albuquerque. O mundo dos antepassados e o mundo dos vivos ritual de ukanyi na mediação: um ensaio sobre ancestralidade no Sul de Moçambique. ODEERE: Revista do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade – UESB, v. 4, n. 7, p. 221-241, 2019b. https://doi.org/10.22481/odeere.v4i7.5370.

DOMINGOS, Luis Tomás. A visão africana em relação à natureza. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 3, n.9, p. 01-11, jan./jun., 2011. Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST12/003%20-%20Luis%20Tomas%20Domingos.pdf. Acesso em: 21 dez. 2016.

FURQUIM, Fabiane Miriam. A permanência do Lobolo e a organização social no Sul de Moçambique. Revista Cantareira, n. 25, p. 5-15, 2016. Disponível em: https://periodicos.uff.br/cantareira/article/view/27920/16314. Acesso em: 06. ago. 2020.

GRANJO, Paulo. O lobolo de meu amigo Jaime: um velho idioma para novas vivências conjugais. Travessias - Revista de ciências sociais e humanas em língua portuguesa, n. 4/5 p. 47-78, 2004. Disponível em: https://tinyurl.com/lobolomeuamigojaime. Acesso em: 19 jan. 2019.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1989.

GLUCKMAN, Max. Mystical disturbance and ritual adjustment. In: GLUCKMAN, Max. Politics, law and ritual in tribal society. Oxford: Basil Blackwell, 1965. p. 216-267.

GLUCKMAN, Max. Parentesco y Matrimonio entre los lozi de Rodesia del Norte y los zulúes de Natal. In: RADCLIFFE-BROWN, Alfred Reginald; DARYLL, Forde. (orgs.). Sistemas Africanos de Parentesco y Matrimonio. Barcelona: Anagrama, 1982. p. 185-233.

HERNANDEZ, Hector G. Invasões estrangeiras e formação do estado ao sul de Moçambique. África (Online), São Paulo, n. 35, p. 19-55, 2015. p. 19-55. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2526-303X.v0i35.

HONWANA, Alcinda Manuel. Espíritos vivos, tradições modernas: possessão de espíritos e reintegração social pós-guerra no sul de Moçambique. Maputo: Promédia, 2002.

LANGA, Adriano. Questões cristãs à religião tradicional africana. Moçambique: Editorial Franciscana, 1992.

MAHUMANE, Jonas Alberto. “Marido Espiritual”: possessão e violência simbólica no sul de Moçambique. 2015. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade de Lisboa, Portugal, 2015.

MUSSANE, Guilherme Afonso. Kuna n’kinga: o lobolo como foco das representações locais de mudança social. 2009. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Moçambique: Europa-América, 1997.

PEIRANO, Mariza. Etnografia, ou a teoria vivida. Ponto Urbe - Revista do núcleo de antropologia urbana da USP, n. 2, p. 1-11, 2008. https://doi.org/10.4000/pontourbe.1890.

PINHO, Osmundo. A antropologia na África e o lobolo no sul de Moçambique. Afro-Ásia, n. 43, p. 9-41, 2011. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=77021122001. Acesso em: 21 jan. 2018.

RITA-FERREIRA, Antonio. Pequena história de Moçambique pré-colonial. Maputo: Fundo de Turismo, Biblioteca Nacional de Moçambique, 1975.

SANTANA, Jacimara Souza. Mulheres de Moçambique na revista Tempo: O debate sobre o lobolo (casamento). Revista de História (UFBA), v. 1, n. 2, p. 82-98, 2009. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/rhufba/article/view/26684/16009. Acesso em: 19 jul. 2019.

SENGULANE, Hipólito. História das instituições de poder político em Moçambique. Maputo: Alcance Editores, 2015.

TAIBO, Ruben Miguel Mário. Lobolo (s) no Moçambique Contemporâneo: mudança social, espíritos e experiências de união conjugal na cidade de Maputo. 2012. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2012.

TURNER, Victor. Floresta de símbolos: Aspectos do ritual Ndembu. Niterói (RJ): EdUFF, 2005.

WILSON, Monica. Nyakyusa Ritual and Symbolism. American Anthropologist, v. 56, n. 2, p. 228-241, 1954. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/664361. Acesso em: 14 nov. 2019.

Downloads

Publicado

14-11-2022

Como Citar

FERNANDES, R. "Os espíritos comem os presentes": o universo invisível e o curandeirismo no lobolo. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, [S. l.], v. 9, n. 17, p. 1–23, 2022. DOI: 10.21680/2446-5674.2022v9n17ID29215. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/29215. Acesso em: 17 mar. 2025.