O que é seu é meu e o que é meu... é meu: a biopolítica e a uberização da vida
DOI:
https://doi.org/10.21680/1983-2109.2022v29n58ID25646Palavras-chave:
Biopolítica; Neoliberalismo; Uberização; Economia de Comparti-lhamento; Concorrência; Sujeito Neoliberal.Resumo
A biopolítica, para Michel Foucault, poderia ser entendida como aquilo que faz viver e deixa morrer. Ao largo de sua trajetória intelectual, especificamente, na segunda metade da década de 1970, o filósofo francês desenvolveu essa questão em alguns de seus Cursos dados ao Collège de France. No curso de 1979, ele indica uma faceta biopolítica atuante na dimensão da constituição de subjetividade, tendo como background a chamada governamentalidade neoliberal, isto é, o homo oeconomicus. Este artigo tem como principal objetivo a análise do neoliberalismo hoje, no tocante à temática do avanço das novas tecnologias e da internet sobre o trabalho, levando em conta o quesito da precarização, ou, uberização. Entretanto, buscaremos problematizar os vieses biopolíticos concernentes à esta questão. Nossa exposição obedece a três etapas: 1- A justificativa teórico-metodológica das razões para se buscar entender a temática por meio da biopolítica; 2- A apresentação da temática da uberização e, consequentemente, a elucidação da chamada economia de compartilhamento; 3- A exposição da constituição de uma subjetividade neoliberal, uberizada, no trabalho e na vida. Como conclusão, entende-se que vivemos em um novo regime do normal, que implica em resistências outras, para o arrefecimento de tais modos de subjetivação.
Downloads
Referências
ABILIO, Ludmila C. “Uberização: Do empreendedorismo para o autogerencia-mento subordinado.” In.: Psicoperspectivas: individuo y sociedad, vol. 18, nº. 3. 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.5027/psicoperspectivas-vol18-issue3-fulltext-1674 ; Acessado em: 20/09/2020
ANTUNES, Ricardo. O Privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. SP: Boitempo. 2020.
BRANCO, Pedro Mendonça C.; COMARU, Francisco de Assis; DA SILVA, Sidney Jard. “Uberização e Covid-19: esgarçando as contradições do trabalho no sécu-lo XXI.” In. Revista NORUS, vol. 8 nº 14, p. 116-134, Ago/Dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.15210/norus.v8i14.20035 ; Acessado em: 14/08/2020
BREDA, Tadeu. & PERES, João. “Nota da edição”. In.: SLEE, Tom. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. Trad.: João Peres. São Paulo: Editora Ele-fante. 2017.
BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e subjetividade. Porto Alegre: Sulina. 2013.
BERARDI, Franco (Bifo). A fábrica da infelicidade: trabalho cognitivo e crise da new economy. RJ: DP&A. 2005.
BECKER, Gary. Human Capital: a theoretical and empirical analysis, with special reference to education. 3rd ed. Chicago/London: The University of Chi-cago Press. 1993. (Kindle Edition)
CASTRO, Edgardo. Introdução a Foucault. Trad.: Beatriz de A. Magalhães. BH: Autêntica Editora. 2015.
CARELLI, Rodrigo. “Suprema Corte do Reino Unido confirma: motoristas da Uber não são trabalhadores autônomos”. In. TRAB21 (Blog); 19/02/2021; Disponível em: https://trab21.blog/2021/02/19/suprema-corte-do-reino-unido-confirma-motoristas-da-uber-nao-sao-trabalhadores-autono-mos/#:~:text=Em%20decis%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%2C%20que%20p%C3%B5e,aut%C3%B4nomos%2C%20como%20queria%20a%20empresa. ; Acessado em: 18/05/2021.
COSTA, Crislaine. "Uber completa 5 anos de Brasil com 2,6 bilhões de viagem realizadas". In.: Uber Newsroom. 2019. Disponível em: https://www.uber.com/pt-BR/newsroom/uber-completa-5-anos-de-brasil-com-26-bilhoes-de-viagens-realizadas/ ; Acessado em: 07-09-2020.
DARDOT, Pierre. & LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Trad.: Mariana Echalar. Rio de Janeiro: Boitempo. 2016.
ESPOSITO, Roberto. Bios: biopolítica e filosofia. Trad.: Wander M. Miranda. BH: Editora UFMG. 2017.
FARIAS, Carine; FERNANDEZ, Pablo; HJORTH, Daniel & HOLT, Robin. In.: Organizational entrepreneurship, politics and the political, Entrepreneurship & Regional Development. 31:7-8. 555-566. 2019. DOI: https://doi.org/10.1080/08985626.2019.1599186 ; Acessado em: 14/10/2020
FLEMING, Peter. “The Human Capital Hoax: work, debt and insecurity in the era of uberization.” In.: Organization Studies. 38(5). 691–709. 2017. DOI: https://doi.org/10.1177/0170840616686129¬ ; Acessado em: 20/09/2020
FOUCAULT, Michel. Naissance de la biopolitique : cours au Collège de France (1978-1979). Paris : Éditions Gallimard/Seuil. 2004a.
FOUCAULT, Michel. Sécurité, territoire, population : cours au Collège de France (1977-1978). Paris : Éditions Gallimard/EHESS/SEUIL. 2004b.
FOUCAULT, Michel. “La naissance de la médicine sociale.” (196) In. : Dits et écrits II. 1976-1988. Paris : Quarto Gallimard. 2001.
FOUCAULT, Michel. “Gerir os ilegalismos.” In.: Michel Foucault: entrevistas a Roger Pol-Droit. São Paulo: Graal, 2006.
FOUCAULT, Michel. “Le sujet et le pouvoir.” In. : Dits et écrits II. 1976-1988. Paris : Quarto Gallimard. 2001.
FONTES, Virgínia. “Capitalismo em tempos de uberização: do emprego ao trabalho”. In. Marx e o Marxismo, v. 5, nº. 8, jan./jun., 2017. Disponível em: http://www.niepmarx.blog.br/revistadoniep/index.php/MM/article/view/220 ; Acessado em: 20/09/2020
HAN, Byung-Chul. “La emergencia viral y el mundo de mañana”. In. AGAM-BEN, Giorgio; NANCY, Jean-Luc. et. al. Sopa de Wuhan: pensamiento contem-poráneo em tiempo de pandemias. Editor: Pablo Amadeo. Buenos Aires: Edi-torial ASPO. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/pablo.amadeo.editor/ ; Acessado em: 20/09/2020
HARDT, Michael & NEGRI, Antonio. Império. Trad.: Berilo Vargas. 2ª Ed. RJ: Record. 2001.
JARDIM, Fabiana. “Breve genealogia dos estudos da governamentalidade: o efeito Foucault e seus desdobramentos. Uma entrevista com Colin Gordon.” In.: Educ. Pesqui. [online]. 2013, vol.39, n.4, pp.1067-1087. DOI : http://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022013000400016 ; Acessado em: 20/09/2020
KAYE-ESSIEN, Charles Wharton. "'Uberization' as neoliberal governmentality: a global south perspective". In.: Journal of Asian and Africa Studies. 55(5).716–732. 2020. DOI: https://doi.org/10.1177/0021909619894616 ; Acessado em: 20/09/2020
LAVAL, Christian. Foucault, Bourdieu e a questão neoliberal. Marcia P. Cunha & Nilton K. Oto. SP: Elefante. 2020.
LAZZARATO, Maurizio & NEGRI, Antonio. Trabalho Imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Trad.: Monica de J. Cesar. 2ª Ed. RJ: Lamparina. 2013.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad.: Carlos I. da Costa. SP: Ed. 34. 1999.
LEMKE, Thomas. Biopolítica: críticas, debates e perspectivas. Trad.: Eduardo. A. C. Santos. SP: Editora Filosófica Politeia. 2018.
LEMKE, Thomas. Foucault, governamentalidade e crítica. Trad.: Mario A. Marino & Eduardo. A. C. Santos. SP: Editora Filosófica Politeia. 2017.
LORENZINI, Daniele. “A filosofia política à prova do ordinário”. In. FONSECA, Angela C. Machado; GALANTIN, Daniel Verginelli & RIBAS, Thiago Fortes. (Orgs.) Políticas não identitárias. SP: Intermeios. 2017.
LYON, David. “9/11, Synopticon, and Scopophilia: watching and being watched.” In. Haggerty, Kevin D. & Ericson, Richard V. (Eds.) The new politics of surveillance and visibility. Toronto/Buffalo/London: Toronto University Press. 2006.
MANARA, Barbara. "Uber com preço dinâmico: descubra se sua corrida está mais cara." In.: TechTudo. 2016. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2016/12/uber-com-preco-dinamico-descubra-se-sua-corrida-esta-mais-cara.html ; Acessado em: 27/09/2020.
MOROZOV, Evgeny. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Trad.: Danilo Marcondes. SP: Ubu Editora. 2018.
MOROZOV, Evgeny. The net delusion: the dark side of internet freedom. New York: Public Affairs. 2011.
PELBART, Peter Pál. “Biopolítica.” In: Sala Preta, v. 7, p. 57-66, Nov./2007. https://doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v7i0p57-66 ; Acessado em: 14/05/2021
RAFFIN, Marcelo. “Lecturas foucaultianas del liberalismo y el neoliberalismo: entre una arqueo-genealogía de las formas del gobierno contemporáneo y la historia de la gubernamentalidad”. In. Valenciana, n. 27, enero-junio de 2021, pp. 305-338; ISSN impresa: 2007-2538, ISSN electrónica: 2448-7295. DOI: https://doi.org/10.15174/rv.v13i27.584
ROGERS, Brishen. “The social costs of Uber.” In.: University of Chicago Law Review Dialogue (Online), v. 82, p. 85-102. 2015.
ROUVROY, Antoinette & BERNS, Thomas. “Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação?” In.: BRUNO, Fernanda et. al. Tecnopolíticas da vigilância: perspecti-vas da margem. Trad.: Heloísa C. Mourão et. al. 1ª ed. SP: Boitempo. 2018.
SENELLART, Michel. “Situation du cours.” In.: FOUCAULT, Michel. Naissance de la biopolitique : cours au Collège de France (1978-1979). Paris : Éditions Gallimard/Seuil. 2004a. pp. 333-336.
SLEE, Tom. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. Trad.: João Peres. São Paulo: Editora Elefante. 2017.
SOUZA MORAES, Rodrigo Bombonati; OLIVEIRA, Marco A. Gonsales de; AC-CORSI, André. “Uberização do trabalho: a percepção dos motoristas de trans-porte particular por aplicativo.” In. Revista Brasileira de Estudos Organizaci-onais – v. 6, n. 3, p. 647- 681, dez/2019. DOI: https://doi.org/10.21583/2447-4851.rbeo.2019.v6n3.216
SOUZA MORAES, Rodrigo Bombonati. “Precarização, uberização do trabalho e proteção social em tempos de pandemia”. In. Revista NAU Social - v.11, n.21, p. 377 – 394 Nov 2020 / Abr 2021; DOI: DOI: http://dx.doi.org/10.9771/ns.v11i21.38607 ; Acessado em: 11/05/2021.
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Trad.: George Schlesinger. 1ª Ed. RJ: In-trínseca. 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Termos da licença:
Não Comercial (NC) | Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, desde que sejam para fins não comerciais. |
Compartilha Igual (SA) | Os licenciados devem distribuir obras derivadas somente sob uma licença idêntica à que governa a obra original ou menos restritiva. |