BARRANCOS DE CUSCUZ DE MILHO E UM RIO DE LEITE: ALIMENTAÇÃO, IDENTIDADE E PATRIMÔNIO NO SERTÃO DE CANUDOS
DOI:
https://doi.org/10.21680/2238-6009.2021v1n57ID27407Resumo
O presente artigo procura compreender como práticas alimentares que concorreram para a afirmação de marcos identitários no âmbito do movimento social liderado por Antônio Conselheiro, no último quartel do século XIX, repercutem atualmente naquele território. De forma fragmentária, as referências à alimentação encontram-se há muito no debate sobre Canudos, por vezes associadas a supostas manifestações do desiquilíbrio mental do Conselheiro e dos milhares de homens e mulheres que o seguiam. Contudo, a imagem negativa atribuída ao alegado “fanatismo” e alienação dos conselheiristas tem recuado frente àquela da coletividade que procurava inserir-se na realidade que a rodeava, a partir de uma perspectiva identitária particular, positivada pela dimensão religiosa. O atual processo de patrimonialização da herança conselheirista integra essa inversão simbólica, na qual tais particularidades resultam em submissão de aspectos da vida econômica a normas comunitárias de produção, distribuição e consumo, inclusive de víveres que compunham o repertório alimentar dos sertanejos.