PANDEMIA COMO CATÁSTROFE E ANTÍDOTO: INTERLOCUÇÕES ANTROPOCENAS ENTRE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E ANTROPOLOGIA
DOI:
https://doi.org/10.21680/2238-6009.2021v1n58ID27604Resumo
Elaborado a partir das pesquisas do Mapeamento das Casas de Religião de Matrizes Africanas no Rio Grande do Sul (Módulo 2) – Pelotas, Rio Grande e Jaguarão, desenvolvidas entre os anos de 2020 e 2021, por demanda do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/RS, este artigo é fruto de trabalho de cunho qualitativo, baseado em observação participante e realização de questionários e entrevistas, que buscou esboçar uma cartografia social do campo afrorreligioso no sítio referido. As interlocuções com pais e mães de santo trazidas pelo presente estudo apresentam narrativas dessas pessoas sobre os impactos da pandemia de Covid-19, suas possíveis causas e efeitos. Temos, assim, que as casas de religiões de matriz africana trazem em seus fundamentos cosmoecológicos e religiosos premissas que, ao ressoar (Anjos, 2006) no discurso das ciências humanas a respeito das crises do capitalismo individualista e exploratório, que tão fortemente tem marcado o Antropoceno, este “tempo de catástrofes” (Stengers, 2015) – discursos tais como, por exemplo, o que traz a necessária afirmação de que “a pandemia é sintoma de uma catástrofe muito maior” (Segata, 2021) – radicalizam-no, permitindo que possamos enxergar em um dos lados da doença o seu antídoto: a retomada dos laços que compõem uma vida boa.