Os Candomblés vistos a partir de suas contribuições político-epistêmicas
DOI:
https://doi.org/10.21680/2446-5674.2022v9n16ID26362Palavras-chave:
Antropologia das Religiões Afro-Brasileiras, Candomblés, Epistemologias, Política, SubjetivaçãoResumo
A identidade religiosa — assim como os saberes guardados, produzidos e atualizados no interior do Candomblé — tem sido convocada nos discursos e ações de ativistas e pesquisadoras. Há toda uma fundamentação ética e cosmogônica que orienta suas ações, agenciando toda uma rede de significados e reposicionamentos subjetivos e epistemológicos que informam a política e a produção de conhecimento de adeptas e iniciadas na religião dos Orixás. Utilizando revisão bibliográfica, consideramos, ao menos, cinco apontamentos que podem nos ajudar a compreender esse cenário: (ⅰ) Candomblés como exercício de decolonialidade; (ⅱ) Candomblés como exercício de outro modelo organizativo de família; (ⅲ) Candomblés como exercício de afetividades; (ⅳ) Candomblés como exercício de autoavaliação e autodefinição; e (ⅴ) fundamentos epistemológicos religiosos afro-brasileiros. Concluímos que os Candomblés, como espaços não formais de educação, bem como políticos, têm pressupostos que os constituem como vetores que oferecem estímulos decoloniais notáveis na formação das sujeitas, denotando a expressão e vida religiosa enquanto dimensões que podem levar a processos de subjetivação, estimulando a agência e processos de desidentificação e atuação política.
Downloads
Referências
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2019.
ALCOFF, Linda. Uma epistemologia para a próxima revolução. Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 129-143, janeiro/abr. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/se/v31n1/0102-6992-se-31-01-00129.pdf. Acesso em: 4 out. 2020.
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira Ciência Política, Brasília, n. 11, p. 89-117, ago. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522013000200004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 4 out. 2020.
BENISTE, José. Dicionário yorùbá-português. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2014.
BOMFIM, Patrick Thiago dos Santos. Discriminação e preconceito: identidade, cotidiano e religiosidade de travestis e transexuais. 2009. 132 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília. 2009. Disponível em: https://bdtd.ucb.br:8443/jspui/bitstream/123456789/1939/1/Texto%20completo%20Patrick%20Thiago%20Bomfim%20-%202009.pdf. Acesso em: 15 jun. 2015
CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Orientadora: Roseli Fischmann. 2005. 339 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: https://negrasoulblog.files.wordpress.com/2016/04/a-construc3a7c3a3o-do-outro-como-nc3a3o-ser-como-fundamento-do-ser-sueli-carneiro-tese1.pdf. Acesso em 7 out. 2020.
CASTILLO, Lisa Earl. Entre a oralidade e a escrita: a etnografia nos candomblés da Bahia. Salvador: EDUFBA, 2010. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=AF5VCwAAQBAJ&lpg=PP1&hl=pt-BR&pg=PA29#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 12 out. 2020.
COLLINS, Patrícia Hill. Aprendendo com a outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Revista Estado e Sociedade, Brasília, v. 31, n. 1, jan./abr. 2016a. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102- 69922016000100099&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 5 dez. 2020.
COLLINS, Patricia Hill. La pensée féministe noire. Montréal: Les éditions du Remue-ménage, 2016b.
DIAS, Claudenilson da Silva. Identidades trans* em candomblés: entre aceitações e rejeições. Orientadora: Janja Araújo. 2017. 125 f. Dissertação (Mestrado em Gênero, Feminismos e Mulheres) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/28601. Acesso em: 7 dez. 2020.
HADDOCK-LOBO, Rafael. A gira macumbística da filosofia. Revista Cult, ano 23, n. 254, p. 21- 23, fev. 2020.
HOFBAUER, A. Dominação e contrapoder: o candomblé no fogo cruzado entre construções e desconstruções de diferença e significado. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 5, p. 37-79, jul. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522011000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 11 dec. 2020.
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, n. 5, p. 7-41, 1995. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773. Acesso em: 4 out. 2020.
HARDING, Sandra. Rethinking standpoint epistemology: what is “strong objectivity?”. The Centennial Review, v. 36, n. 3, p. 437-470, outono, 1992.
HARDING, Sandra. Existe un método feminista? In: BARTRA, Eli (org.). Debates em torno a uma metodología feminista, México, D.F.: UNAM, 1998. p. 9-34.
JAGUN, Márcio de. Yorùbá: vocabulário temático do Candomblé. São Paulo: Litteris, 2017.
JESUS, Fátima Weiss de. Unindo a cruz e o arco-íris: vivencia religiosa, homossexualidade e trânsitos de gênero na Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo. 2012. 302 f. Tese. (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/100558/308807.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 25 jan. 2015.
LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução de Cristina Antunes e João Wanderley Geraldi. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.
LIMA, Vivaldo da Costa. O conceito de “Nação” nos candomblés da Bahia. Afro-Ásia, Salvador, n. 12, p. 65-90, 1976. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/20774/13377. Acesso em: 8 maio 2021.
LIMA, Vivaldo da Costa. A família de santo nos candomblés jeje-nagôs da Bahia: um estudo de relações intragrupais. 2. ed. Salvador: Corrupio, 2003. 216 p.
LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa, Bogotá, n. 9, p. 73-102, dez. 2008. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-24892008000200006&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 4 out. 2020.
LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755/28577. Acesso em: 5 dez. 2020.
MACHADO, Vanda. Exu: o senhor dos caminhos e das alegrias. In: ENECULT, 4., 2010, Salvador. Anais [...]. Salvador: UFBA, 2010, p. 1-17. Disponível em: http://www.cult.ufba.br/wordpress/24929.pdf. Acesso em: 12 out. 2020.
MALDONADO-TORRES, Nelson. A topologia do Ser e a geopolítica do conhecimento. Modernidade, império e colonialidade. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 80, p. 71-114, 2008. Disponível: http://journals.openedition.org/rccs/695. Acesso em: 15 dez. 2021.
MIGNOLO, Walter. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF, Niterói, n. 34, p. 287-324, 2008.
MUNDELL, John Andrew. Meninos diferentes: construção e performance de masculinidades de homens negros gays em Salvador, Bahia. Orientador: Jocélio Teles. 187 f. 2014. Dissertação (Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos) - Centro de Estudos Afro-Orientais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.
NASCIMENTO, Abdias. Quilombismo: um conceito científico emergente do processo histórico-cultural das massas afro-brasileiras. In: NASCIMENTO, Abdias. Quilombismo: documentos da militância pan-africanista. Petrópolis, Vozes, 1980. p. 245-281.
NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. São Paulo: Pólen, 2020.
OYĚWÙMÍ, Oyèrónké. Conceituando o gênero: os fundamentos eurocêntricos dos conceitos feministas e o desafio das epistemologias africanas. Tradução de Juliana Araújo Lopes. Filosofia africana, textos africanos, s/d. Disponível em: oyèrónké_oyěwùmí_-_conceitualizando_o_gênero._os_fundamentos_eurocêntrico_dos_conceitos_feministas_e_o_desafio_das_epistemologias_africanas.pdf (weebly.com) Acesso em: 4 out. 2020.
OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. La invención de las mujeres: una perspectiva africana sobre los discursos occidentales del género. Bogotá: Editora En la Frontera, 2017. Disponível em: https://ayalaboratorio.files.wordpress.com/2019/06/a-invencao-das-mulheres-oyc3a8ronke-oyewumi.pdf. Acesso em: 4 out. 2020.
PARÉS, Luis Nicolau. A formação do candomblé. 3. ed. Campinas: Editora Unicamp, 2018.
PAZ, Adilson. Pedrinha miudinha em Aruanda ê, Lajedo: o modo de vida da umbanda. Orientadora: Suely Aldir Messeder. 2019. 194 f. Tese (Doutorado em Difusão do Conhecimento) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019. Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31253. Acesso em 11 dez. 2020.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005. p. 107-130. (Colección Sur Sur). Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf. Acesso em: 4 out. 2020.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Pólen, 2019.
RIBEIRO, Katiúscia. Mulheres negras e a força matricomunitária. Revista Cult, ano 23, n. 254, p. 38-41, fev. 2020.
RIBEIRO, Luiz Albero Faria. Deus é para todos?: travestis, religião e inclusão social. 2009. 159 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.php?open=1&arqtese=0710336_09_Indice.html. Acesso em: 21 jul. 2016.
ROMBA, Rui Martins. O Candomblé no Terreiro de Pilão Branco em São Paulo: estudo de caso sobre o impacto da religião no quotidiano de praticantes Pessoas Trans. 2015. 195 f. Dissertação (Mestrado em Relações Interculturais) – Universidade Aberta, [S. l.], 2015, Portugal. Disponível em: https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/4463/1/Tese%20Mestrado%20-%20Rui%20Martins%20Romba.pdf. Acesso em: 18 abr. 2015.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.
RUFINO, Luiz; HADDOCK-LOBO, Rafael. Apresentação. Revista Cult, ano 23, n. 254, p. 18-20, fev. 2020.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos Estudos - CEBRAP, São Paulo, n. 79, p. 71-94, nov. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002007000300004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 6 out. 2020.
SANTOS, Boaventura; MENESES, Paula (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, jul./dez. 1990.
SEGATO, Rita Laura. Iemanjá em família: mito e valores cívicos no Xangô do Recife. Anuário Antropológico, Brasília, v. 12, n. 1, p. 145-190, 26 jan. 1990. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6394. Acesso em: 13 dez. 2020.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Religião e identidade cultural negra: afro-brasileiros, católicos e evangélicos. Afro-Ásia, Salvador, n. 56, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/22524. Acesso em: 13 dez. 2020.
SIMAS, Luiz Antônio; RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
SIMAS, Luiz Antônio; RUFINO, Luiz. Flecha no tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.
SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.
SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira. Rio de Janeiro: Mauad, 2019.
WERNECK, Jurema Pinto. O samba segundo as Ialodês: mulheres negras e a cultura midiática. Orientadora: Liv Rebecca Sovik. 2007. 318 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: https://issuu.com/marcelooreilly/docs/0152-juremapintowerneck. Acesso em: 7 out. 2020.
WILLIAM, Rodney. Apropriação cultural. São Paulo: Pólen, 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Igor Leonardo de Santana Torres, Almerson Cerqueira Passos, Claudenilson da Silva Dias
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.