Os Candomblés vistos a partir de suas contribuições político-epistêmicas

Autores

  • Igor Leonardo de Santana Torres Universidade Federal do Rio Grande do Norte
  • Almerson Cerqueira Passos Universidade Federal da Bahia
  • Claudenilson da Silva Dias Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.21680/2446-5674.2022v9n16ID26362

Palavras-chave:

Antropologia das Religiões Afro-Brasileiras, Candomblés, Epistemologias, Política, Subjetivação

Resumo

A identidade religiosa — assim como os saberes guardados, produzidos e atualizados no interior do Candomblé — tem sido convocada nos discursos e ações de ativistas e pesquisadoras. Há toda uma fundamentação ética e cosmogônica que orienta suas ações, agenciando toda uma rede de significados e reposicionamentos subjetivos e epistemológicos que informam a política e a produção de conhecimento de adeptas e iniciadas na religião dos Orixás. Utilizando revisão bibliográfica, consideramos, ao menos, cinco apontamentos que podem nos ajudar a compreender esse cenário: (ⅰ) Candomblés como exercício de decolonialidade; (ⅱ) Candomblés como exercício de outro modelo organizativo de família; (ⅲ) Candomblés como exercício de afetividades; (ⅳ) Candomblés como exercício de autoavaliação e autodefinição; e (ⅴ) fundamentos epistemológicos religiosos afro-brasileiros. Concluímos que os Candomblés, como espaços não formais de educação, bem como políticos, têm pressupostos que os constituem como vetores que oferecem estímulos decoloniais notáveis na formação das sujeitas, denotando a expressão e vida religiosa enquanto dimensões que podem levar a processos de subjetivação, estimulando a agência e processos de desidentificação e atuação política.

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Publicado

24-05-2022

Como Citar

DE SANTANA TORRES, I. L.; CERQUEIRA PASSOS, A.; DA SILVA DIAS, C. Os Candomblés vistos a partir de suas contribuições político-epistêmicas. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, [S. l.], v. 9, n. 16, p. 1–26, 2022. DOI: 10.21680/2446-5674.2022v9n16ID26362. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/26362. Acesso em: 16 abr. 2024.