Questões raciais na relação antropólogo-interlocutor
raça e pesquisa de campo com pessoas trans em Belém-PA
DOI:
https://doi.org/10.21680/2446-5674.2022v9n17ID28536Palavras-chave:
Pesquisa de campo; Pessoas trans; Raça; Antropologia UrbanaResumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre o lugar da raça na pesquisa de campo, principalmente na relação pesquisador-interlocutor. Os questionamentos aqui apresentados partem da pesquisa de doutorado que estou desenvolvendo com pessoas trans de Belém-PA, organizadas na Rede Paraense de Pessoas Trans (REPPAT). A questão racial aparece principalmente na interlocução com Rafael Carmo, homem trans negro, nos diálogos e situações em campo envolvendo nossa racialidade. Procuro, assim, refletir sobre essa experiência em articulação com a teoria antropológica sobre a presença do autor em campo, bem como as relações entre “estranhamento” e “distanciamento” entre antropólogo e interlocutores no contexto da Antropologia Urbana. Por fim, questiono a relação “eu-outro” na pesquisa de campo atravessada pela negritude do antropólogo e do interlocutor, para pensar em possíveis dimensões “outro-outro” ou “sujeito-sujeito”.
Downloads
Referências
ABU-LUGHOD, Lila. A escrita contra a cultura. Revista Equatorial, Natal, v. 5, n. 8, p. 193-226, jan/jun, 2018.
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Raça e Racismo. In: ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020. p. 23-58.
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva (orgs.). Psicologia Social do Racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 25-58.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo. São Paulo, Editora UNESP, 2006. p. 17-35
CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.
CERTEAU, Michel. Caminhas pela cidade. In: CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. p. 157-177.
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019.
CONRADO, Mônica; CAMPELO, Marilu; RIBEIRO, Alan. Metáforas da cor: Morenidade e Territórios da Negritude nas construções de identidades negras na Amazônia paraense. Afro-Ásia, n. 51, p. 213-246, 2015.
CORRÊA, Mariza. Sobre a invenção da mulata. Cadernos Pagu, v. 6, n. 7, p. 35-50, 1996.
CRAPANZANO, Vincent. O dilema de Hermes: o disfarce da subversão na descrição etnográfica. In: CLIFFORD, James; MARCUS, George (orgs). A escrita da cultura: poética e política da etnografia. Rio de Janeiro: EdUERJ; Papéis Selvagens Edições, 2016. p. 91-124.
CRENSHAW, Kimberle. A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero, 2002. Disponível em: https://static.tumblr.com/7symefv/V6vmj45f5/kimberlecrenshaw.pdf. Acesso em: 04 mar. 2022.
CRUZ, Felipe S. M. Indígenas antropólogos e o espetáculo da alteridade. Revista de estudos e pesquisas sobre a América, v. 11, n. 2, p. 93-108, 2017.
DAMÁSIO, Ana Clara. Como pode o “Outro” narrar? Considerações sobre viver, fazer e escrever na Antropologia. PÓS, v. 16, n. 1, p. 72-99, 2021.
DAMATTA, Roberto. O ofício de etnólogo, ou como ter “anthropological blues”. In: NUNES, Edson de Oliveira (org.). A aventura sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 23-35
DEUS, Amadeu Lima de. “Somos veteranas!”: As experiências do tempo vivido a partir das narrativas e das memórias de mulheres travestis e transexuais. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia) – Universidade Federal do Pará, 2017.
DEUS, Zélia Amador de. Ananse tecendo teias na diáspora: uma narrativa de resistência e luta das herdeiras e herdeiros de Ananse. Belém: Secult/PA, 2019.
DOMINGUES, Bruno Rodrigo Carvalho. Negro na universidade, branco no trabalho de campo: reflexões sobre representação e desigualdade racial na academia. Cadernos de campo, São Paulo, v. 27, n.1, p. 295-308, 2018 (p. 295-309).
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.
FAVRET-SAADA, Jeanne. Ser afetado. Cadernos de Campo, n. 13, p. 155-161, 2005.
FRY, Peter. Para Inglês Ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1982.
GEERTZ, Clifford. “Do ponto de vista dos nativos”: a natureza do entendimento antropológico. In: GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. 14 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2014. p. 60-74.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2017.
GOLDMAN, Marcio. Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia, antropologia e política em Ilhéus, Bahia. Revista de Antropologia, v. 46, n. 2, p. 445-276, 2003.
GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autência, 2020.
GOMES, Gleidson Wirllen Bezerra. “Vivência de Resistência”: a Rede Paraense de Pessoas Trans na luta por visibilidade e direitos em Belém – Pará. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Pará, 2019.
GOMES, et al. Autobiografias de pessoas trans em Belém, Pará, Amazônia: narrativas e transições na cidade. In: RIBEIRO, et al. Potência das periferias. 1ª ed. Rio de Janeiro: EDUNIperiferias, 2020. p. 122-155.
GONÇALVES, Telma A. Homossexualidade – representações, preconceito e discriminação em Belém. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Ciências Sociais) – Universidade Federal do Pará, Belém, PA, 1989.
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos/ organização Flávia Rios, Márcia Lima. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. p. 75-93.
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Raça, cor e pobreza no Brasil. In: GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2012. p. 47-78.
JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre a população transgênero: conceitos e termos. Brasília: Autor, 2012.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Introdução à obra de Marcel Mauss. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2015. p. 09-44
MAGNANI, José Guilherme C. Quando o campo é a cidade: fazendo antropologia na metrópole. In: MAGNANI, José Guilherme C.; TORRES, Lilian de Lucca (orgs.). Na Metrópole: textos de Antropologia urbana. Edusp: São Paulo, 1996.
MALINOWSKI, Bronislaw. Introdução: Tema, método e objetivo desta pesquisa. In: MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Ubu Editora, 2018. p. 55-84.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
NASCIMENTO, Abdias do. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectivas, 2016.
NOLETO, Rafael da Silva. Cor de jambo e outros matizes amazônicos: sobre a abolição da mulata e o advento da morena cheirosa nas festas juninas de Belém. Mana, v. 24, n. 2, p. 132-173, 2018.
OLIVEIRA, João Pacheco de. Pardos, Mestiços ou Caboclos: os índios nos Censos Nacionais no Brasil (1872-1980). Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 3, n. 6, p. 61-84, out. 1997.
PEREIRA, Luena. Alteridade e Raça Entre África e Brasil: branquidade e descentramentos nas ciências sociais brasileiras. Revista De Antropologia, v. 63, n. 2, p. 1-14, 2020.
PINHO, Osmundo. O sacrifício de Orfeu: masculinidades negras no contexto da antinegritude em Salvador. In: CAETANO, Marcio; SILVA JUNIOR, Paulo Melgaço da (Orgs.). De guri a cabra-macho: masculinidades no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2018. p. 146-173.
PINHO, Osmundo. O corpo do homem negro e a guerra dos sexos no Brasil. In: RESTIER, Herique; SOUZA, Rolf Malungo de (orgs.). Diálogos contemporâneos sobre homens negros e masculinidades. São Paulo: Ciclo Contínuo Editorial, 2019. p. 105-130.
REIDEL, Marina. Identidades trans: onde estamos? Para onde vamos? In: FERRARI, Anderson; CASTRO, Roney Polato de (Orgs.). Diversidade sexuais e de gêneros: desafios e potencialidades de um campo de pesquisa e conhecimento. Campinas-SP: Pontes Editores, 2017. p. 117-134.
ROCHA, Ana L. C. da.; ECKERT, Cornélia. Questões em torno do uso de relatos e narrativas biográficas na experiência etnográfica. In: Etnografia da Duração: antropologia das memórias coletivas em coleções etnográficas. Porto Alegre: Marcavisual, 2013. p. 105-128.
RODRIGUES, Carmen Izabel. Caboclos na Amazônia: a identidade na diferença. Novos Cadernos NAEA. v. 9, n. 1, p. 119-130, jun. 2006.
SANTANA, Bruno. Pensando as transmasculinidades negras. In: RESTIER, Henrique; SOUZA, Rolf Malungo de (Orgs.). Diálogos contemporâneos sobre homens negros e masculinidades. São Paulo: Ciclo Contínuo Editorial, 2019. p. 95-104.
SILVA FILHO, Mílton Ribeiro da; RODRIGUES, Carmem Izabel. Na rua, na praça, na boate. Ponto Urbe [Online], n. 11 , p. 1-21, 2012.
SILVA FILHO, Mílton Ribeiro da. A Filha da Chiquita Bacana: uma etnografia da Festa da Chiquita em Belém do Pará. 36° Encontro Anual da ANPOCS, 2012, Águas de Lindóia-SP. Anais eletrônicos... Àguas de Lindóia: ANPOCS, 2012.
SILVA, Marley Antonia Silva da; BARBOSA, Benedito Carlos Costa. A “cidade enegrecida”: escravizados na Belém do Grão-Pará colonial. Revista De Estudios Brasileños, v. 7, n. 14, p. 109-122, 2020.
SILVEIRA, Flávio Leonel Abreu da. As dinâmicas das paisagens de Belém (PA):memórias, ruínas e imaginários no mundo urbano. In: ANDRADE, Rubens (org.). Amazônia, cidade e jardins: anatomia urbana e identidades paisagísticas. Rio de Janeiro: Paisagens Híbridas: Escola de Belas Artes: UFRJ, 2016. p. 75-122.
SOUZA, Izabela Jatene de. “Tribos Urbanas” em Belém: dragqueens – rainhas ou dragões? Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Belém. UFPA, 1998.
VELHO, Gilberto. A utopia urbana: um estudo de antropologia social. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
VELHO, Gilberto. Observando o familiar. In: VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 121-132
VERGUEIRO, Viviane. Por inflexões decoloniais de corpos e identidades de gênero inconformes: uma análise autoetnográfica da cisgeneridade como normatividade. Dissertação de Mestrado (Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade) – Universidade Federal do Bahia, 2016.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Gleidson Gomes
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.