A proibição da maconha no Brasil

impactos sociorraciais, interesses históricos e perspectivas para inclusão do povo negro no mercado legal da canabis

Autores/as

  • Mariane Greice Pereira Ventura Universidade Federal do Ceará
  • Lucas Barbosa Lima Universidade Federal da Bahia
  • Marcos Paulo de Oliveira Silva Universidade Federal da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.21680/2446-5674.2025v12n22ID37150

Palabras clave:

Marihuana, Cannabis, Racismo, Antropología antirracista, Guerra contra las drogas

Resumen

Há um século a maconha deixou de ter o status de farmacopeia e se tornou uma substância narcótica, de forma que a proibição deixou, desde então, um rastro de violência, principalmente na população negra. O presente estudo propõe uma discussão sobre o processo histórico que levou à proibição, os impactos sociais e raciais dessa política e as possibilidades de inserção do povo negro no mercado legal da canabis. A maconha sempre foi uma planta versátil utilizada para diversas aplicações, como a indústria têxtil e alimentícia, assim como no uso ritualístico e medicinal, principalmente entre os povos africanos. A pesquisa utiliza referencial bibliográfico para analisar como o processo da proibição da maconha no Brasil envolveu interesses econômicos, políticos e do setor médico. Contudo, na última década, houve um crescimento do uso medicinal da planta, que se tornou um mercado lucrativo, embora ainda mantenha a população negra excluída e vitimada pela persistência da guerra às drogas.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Mariane Greice Pereira Ventura, Universidade Federal do Ceará

Médica graduada en 2020 por la Facultad de Medicina de Bahía (FMB) de la Universidad Federal de Bahía (UFBA), especialista en Medicina Familiar y Comunitaria por la FESF-SUS graduado en 2022 (RQE 22541), posgrada en Cannabis Medicinal (Unyleya-2023 ). Actualmente, estudiante de posgrado en Medicina del Dolor en la Clínica de Terapia del Dolor - CTD (finalización prevista: 2024). Trabaja como preceptora del Mais Médicos de la Universidad Federal de Ceará (UFC) y brinda servicios privados enfocados en medicina integrativa.

Lucas Barbosa Lima, Universidade Federal da Bahia

Antropólogo, Educador Social, Reducción de Daños, Asesor de la Biblioteca Comunitaria Zeferina Beiru, corresponsal de la agencia Entre Becos, Cofundador de Uhuru Reducción de Daños, Investigador de la Asociación Viva Vida del proyecto Favela Vive – Aviso Punto de Atención – SEADES/ SUPRAD. Licenciado en Ciencias Sociales (2017), Magíster en Antropología PPGA-UFBA (2021), candidato a doctorado en PÓSAFRO.

Marcos Paulo de Oliveira Silva, Universidade Federal da Bahia

Marcos Paulo es antropólogo y psicólogo social que trabaja como reductor de daños y movilizador social antiprohibicionista en alianza con instituciones del tercer sector.

Citas

ADIALA, Julio Cesar. Drogas, medicina e civilização na Primeira República. 2011. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/17765. Acesso em: 29 jan. 2025.

ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Editora Pólen, 2019.

ALVES, Leonardo Dias. A divisão racial do trabalho como um ordenamento do racismo estrutural. Rio de Janeiro: Rev katálysis, 2022.

AZEVEDO, Célia Marinho de. Onda negra, medo branco. São Paulo: Unicamp, 1985.

BACIGALUPO, Andrés. Paraguay em lucha por la regulación cannábica. Revista Pensamiento Penal, n. 449, p. 1–4, 2022.

BENTO, Maria Aparecida Silva; CARONE, Iray; PIZA, Edith. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva; PIZA, Edith (Org.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 1–30.

BRASIL. Agência Nacional da Vigilância Sanitária. Resolução nº 17, de 6 de maio de 2015. Define os critérios e os procedimentos para a importação, em caráter de excepcionalidade, de produto à base de Canabidiol em associação com outros canabinóides, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 mai. 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2015/rdc0017_06_05_2015.pdf. Acesso em: 29 jan. 2025.

BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM nº 2.113, de 24 de junho de 2014. Aprova o uso compassivo do canabidiol para o tratamento de epilepsias da criança e do adolescente refratárias convencionais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jun. 2014. Disponível em: https://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2014/2113_2014.pdf. Acesso em: 29 jan. 2025.

BRASIL. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira. 2. ed. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 2021.

BRASIL. Plano da Juventude Negra Viva. Brasília: Ministério da Igualdade Racial, 2023.

BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 ago. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2006/l11343.htm. Acesso em: 29 jan. 2025.

BRASIL. Resolução nº 2.113, de 5 de agosto de 2014. Aprova as Diretrizes para o tratamento de pessoas com Transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas.

BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 17, de 16 de abril de 2015. Atualiza as normas para o controle de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

BARROS, André; PERES, Marta. Proibição da maconha no Brasil e suas raízes históricas escravocratas. Revista Periferia, São Paulo, v. III, n. 2, p. 45–68, 2011.

CAMINHOÁ, Joaquim Monteiro. História Natural do Brasil. 1881.

CARNEIRO, Henrique Soares. Drogas: a história do proibicionismo. São Paulo: Autonomia Literária, 2018.

CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Formulário e Guia Médico. 1890.

COSTA, Pedro Henrique Antunes da; MENDES, Kíssila Teixeira; GUEDES, Ítalo de Oliveira. Juventude brasileira e o trabalho no tráfico de drogas: pauperização, precarização e superexploração. Rev. Interinst. Psicol., v. 14, p. 1–24, 2021.

DÓRIA, José Rodrigues. Os fumadores de maconha: effeitos e males do vício. Washington, December, n. 27, 1915.

ENVIRONMENTAL RESEARCH LETTERS. The environmental impact of cotton versus hemp cultivation. Environmental Research Letters, 2021.

ESCOHOTADO, Antonio. Aprendiendo de las drogas. Barcelona: Editorial Anagrama, 1995. Disponível em: http://www.mamacoca.org/docs_de_base/Consumo/AntonioEscohotado_Aprendiendo_de_las_drogas_Anagrama_marzo1995.pdf. Acesso em: 3 fev. 2025.

FIGUEREDO, Ângela. Classe média negra: trajetórias e perfis. 2012. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/20995. Acesso em: 29 jan. 2025.

GONZÁLEZ, Lélia; HASENBALG, Carlos. Lugar de Negro. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero Limitada, 1982.

INICIATIVA NEGRA POR UMA NOVA POLÍTICA DE DROGAS – INICIATIVA NEGRA. Mesmo que me negue, sou parte de você. Disponível em: https://iniciativanegra.org.br/publicacao/mesmo-que-me-negue-sou-parte-de-voce/. Acesso em: 21 jul. 2024.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (2013–2023). Brasília: IBGE, 2023.

INSTITUTO LOCOMOTIVA. Racismo estrutural e mercado de trabalho. São Paulo: Instituto Locomotiva, 2020.

INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA – ISP. Anuário de Segurança Pública do Rio de Janeiro. 2021. Disponível em: https://www.isp.rj.rj.gov.br/. Acesso em: 29 jan. 2025.

LIMA, Rita de Cássia Cavalcante. Uma história das drogas e do seu proibicionismo transnacional: relações Brasil-Estados Unidos e os organismos internacionais. 2009. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

LIMER, Eric. Na época em que pensávamos que o cânhamo seria uma safra de bilhões de dólares. Popular Mechanics, 20 abr. 2018. Disponível em: https://www.popularmechanics.com/science/environment/a19876318/popular-mechanics-billion-dollar-hemp/. Acesso em: 3 nov. 2019.

LIRA, Wagner Lins. Os trajetos do êxtase dissidente no fluxo cognitivo entre homens, folhas, encantos e cipós: uma etnografia ayahuasqueira nordestina. 2009. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.

MACRAE, Edward; ALVES, Wagner Coutinho (Org.). Fumo de Angola: canabis, racismo, resistência cultural e espiritualidade. Salvador: EDUFBA, 2016.

MARTINS, Denise do Amaral; POSSO, Irimar de Paula. Legislação atual sobre canabis medicinal. Histórico, movimentos, tendências e contratendências no território brasileiro. BrJP, v. 6, n. 2, s75-9, 2023.

MARTIUS, Carl Friedrich von. Reise in Brasilien. 1853.

MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2003.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ). Nota técnica sobre canabinoides. 2023. Disponível em:https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos_2/nt_canabinoides_20230419.pdf. Acesso em: 04 fev. 2025.

MENZ, Maximiliano M. Os escravos da Feitoria do Linho Cânhamo: trabalho, conflito e negociação. Afro-Ásia, Salvador, n. 32, 2005.

MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. São Paulo: Anita Garibaldi coedição Fundação Maurício Grabois, 2014.

KAYA MIND. Anuário da Cannabis Medicinal: os avanços legislativos e o impacto da regulamentação no mercado e na saúde no Brasil. São Paulo: Kaya Mind, 2023.

PATRIOTA, Rhassanno Caracciollo; SÁ, Lucilene Antunes Correia Marques, SATO, Simone Sayuri. Origem, Características e Distribuição Espacial da Canabisdo Polígono da Maconha no Estado de Pernambuco. Rio de Janeiro: Anuário do Instituto de Geociências, 2021.

POCHMANN, Marcio; SILVA, Luciana Caetano Da. Concentração espacial da produção e desigualdades sociais. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 22, p. e202004, 2020.

RIBEIRO, Sidarta. A maconha é uma planta customizada. Entrevista concedida a [nome do entrevistador]. YouTube, 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KAKDosB9kHw. Acesso em: 29 jan. 2025.

ROCHA, Andréa Pires. Relações de trabalho no narcotráfico: exploração, riscos e criminalização. Argumentum, v. 7, n. 1, p. 55–68, 2015. http://dx.doi.org/10.18315/argumentum.v7i1.9020

RODRIGUES, Ana Paula; SILVA, Ivonete da; MOURÃO, Victor Luiz. Práticas sociopolíticas emergentes de pesquisa e de produção de conhecimentos. Revista Educação e Políticas em Debate, v. 12, n. 1, p. 1-20, jan./abr. 2023. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/revistaeducaopoliticas/issue/view/2299. Acesso em: 29 jan. 2025.

ROSENBERG, Charles E. Framing Disease: Illness, Society, and History. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

SAAD, Luiza. Fumo negro: A criminalização da maconha no pós-abolição. São Paulo: Editora EDUFBA, 2019.

SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos modos e significados. Teresina: COMEPI, 2015.

SCHIVELBUSCH, Wolfgang. Das Paradies, der Geschmack und die Vernunft: Eine Geschichte der Genußmittel. Frankfurt am Main: Edition Suhrkamp, 1980.

ZACCONE, Orlando. Acionistas do nada: quem são os traficantes de drogas. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

THE NEW YORK TIMES. Du Pont and the Marijuana Tax Act of 1937. The New York Times, 1937. Disponível em: https://www.gov.br/senappen/ptbr/servicos/sisdepen/relatorios/relipen/relipen-2-semestre-de-2023.pdf. Acesso em: 29 jan. 2025.

Publicado

04-08-2025

Cómo citar

VENTURA, Mariane Greice Pereira; LIMA, Lucas Barbosa; SILVA, Marcos Paulo de Oliveira. A proibição da maconha no Brasil: impactos sociorraciais, interesses históricos e perspectivas para inclusão do povo negro no mercado legal da canabis. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, [S. l.], v. 12, n. 22, p. 1–31, 2025. DOI: 10.21680/2446-5674.2025v12n22ID37150. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/37150. Acesso em: 6 dic. 2025.