“Se eu pudesse, eu matava tudo e começava tudo de novo”: ponto de vista e polêmica pública sobre a homoafetividade em um sermão
DOI:
https://doi.org/10.21680/1983-2435.2024v9nEspecialID34894Palavras-chave:
Ponto de vista, Polêmica pública, Homoafetividade, Violência verbalResumo
Este trabalho propõe uma análise do ponto de vista e da polêmica pública suscitada a respeito da relação de Deus com pessoas homossexuais no sermão proferido pelo pastor André Valadão, em uma pregação realizada na Igreja Batista da Lagoinha, nos Estados Unidos da América (EUA). Retomando pressupostos da Análise da Argumentação no Discurso (Amossy, 2008, 2017, 2018) e da abordagem enunciativo-interacional do ponto de vista (Rabatel, 2016a, 2016b, 2017), o estudo busca investigar quais traços da polêmica emergem no referido sermão e como a construção dos pontos de vista se articula à argumentação polêmica. Os resultados da análise evidenciam a construção de uma retórica do dissenso e da violência verbal pelo proponente, em que se sobressai a função de convocar à ação (suplantar determinado grupo social, os homossexuais) e a tentativa de impor valores não universais ao grupo dos evangélicos e dos que não pertencem a essa religião. O proponente encena discursivamente uma polarização do “nós” contra “eles” tão radical que sugere a aniquilação dos homossexuais, sendo isto em nome de Deus, ao retomar a suposta fala do Senhor e expressar a postura de coenunciação. Diferentes marcas linguísticas identificadas no texto do sermão (verbos, advérbios, tipos de representação da fala, lexemas avaliativos) sinalizam uma revolução que, em última instância, coloca um “deus” forjado à imagem do proponente no centro do poder, subjugando a sociedade ímpia. A análise exibe as tensões da esfera religiosa e destaca a necessidade de outros trabalhos que aprofundem o exame dos discursos produzidos no âmbito do sagrado.
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