PATRIMÔNIO E IDENTIDADE REGIONAL: TRADIÇÕES DOCEIRAS EM PERSPECTIVA
DOI:
https://doi.org/10.21680/2238-6009.2021v1n57ID27404Resumo
No presente artigo, buscamos compreender o “ofício de doceira” na Cidade de Goiás, a partir do processo de reconhecimento de produtos alimentares como patrimônio, em seus aspectos culturais e históricos, tendo que a importância das cozinhas típicas para a cultura local/regional dependerá de articulações políticas visando fortalecer a identidade cultural das comunidades que encarnam os saberes e práticas alimentares. Comparando o processo de registro da Região Doceira de Pelotas e Antiga Pelotas (RS) com o caso das tradições doceiras da Cidade de Goiás (GO), abordado aqui por meio de pesquisa documental e de entrevistas, respectivamente, buscamos trazer reflexões que sirvam a explorar os motivos pelos quais os saberes e práticas alimentares tradicionais no Estado de Goiás ainda não foram reconhecidos oficialmente como patrimônio cultural, conceito este quase ausente nos discursos sobre a identidade local/regional, inclusive entre as narrativas das nossas interlocutoras. A partir dessa abordagem, procuramos desenhar uma imagem de doceira menos romantizada, revelando os motivos reais que levaram essas mulheres a assumirem o ofício, muitas vezes relacionados à luta por sobrevivência ou para se manter a família. Constatamos também que as cozinhas locais se destacam como elementos importantes para o turismo, que se apropria dos patrimônios alimentares para criar mercadorias a partir dos produtos locais, e, não sem contradições, acaba também por proporcionar notoriedade e mais recursos financeiros às doceiras profissionais da Cidade da Goiás.