GÊNERO, ETNICIDADE E INCORPORAÇÃO TRANSGÊNERO: INTERROGANDO FORMAS DE CLASSIFICAÇÃO NA CIRURGIA DE FEMINIZAÇÃO FACIAL
DOI:
https://doi.org/10.21680/2238-6009.2022v1n60ID23834Resumen
A Cirurgia de Feminização Facial (CFF) é um conjunto de procedimentos ósseos e teciduais moles desenvolvido para feminilizar os rostos de mulheres transgêneros. Na avaliação cirúrgica, características faciais particulares são identificadas como “específicas ao sexo” e marcadas para tal intervenção. Porém, essas características não exibem traços “masculinos” ou “femininos” apenas; elas são complexamente recortadas por morfologias de classificação étnico-racial. Baseando-me em observação clínica a partir de uma pesquisa etnográfica, mostro como o ideal feminino desejado entrou em conflito com características identificadas como “étnicas”. Na prática de CFF “masculinidade” e “raça” foram enredadas como elementos exteriores através dos quais a “feminilidade” desejável era articulada. Argumento que a cirurgia que, conscientemente, atua para fazer a paciente se afastar de uma etnicidade fisionomicamente identificada visando a alcançar uma feminilidade ostensivamente neutra e não marcada se torna não apenas um processo de feminilizar o rosto, mas também um processo de “embranquecê-lo”, ainda que as feições da branquitude não sejam o desejo expresso da paciente ou objetivo do cirurgião.
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