CHAMADA ABERTA PARA DOSSIÊ

31-10-2024

"CAÇA, PESCA E OUTRAS CAPTURAS: JOGOS DE RELAÇÕES ENTRE HUMANOS E ANIMAIS"

Organizadoras:

Francisca Miller (Universidade Fedral do Rio Grande do Norte)

Andréa Osório (Universidade Fedeal Fluminese)

Ana Paula Perrota (Universidade Fedral Rural do Rio de Janeiro)

Leticia D'Ambrosio Camarero (Universidade de La Republica de Uruguai)

 

Relações entre humanos e animais são também jogos de vida e morte. Não porque um tenha que morrer para que o outro viva, ou porque gostaríamos que ambos não morressem, como preconizam os adeptos do veganismo, mas porque vivemos e morremos em co-relação. Animais companheiros (Haraway, 2021), pragas (Moreno, 2019) ou vítimas (Perrota, 2015; Osório, 2009) são cada vez mais levados em consideração pela Antropologia de modo que os mundos humano e animal vêm sendo vistos como emaranhados (Haraway, 2016; Tsing, 2021) humanimais e seus processos de vida e morte podem não só ser compreendidos etnograficamente, em termos multiespécies, mas também a partir de seus novos dilemas éticos e políticos.

Em vista desses emaranhados, o dossier aqui proposto pretende, especificamente, discutir as relações que envolvem a pedração, através da caça, da pesca e outas capturas. Mas não só a predação, pois por este último termo compreendemos eventos múltiplos, que envolvem tanto a coleta científica quanto o resgate de animais, os xerimbabos e as armadilhas – inclusive as fotográficas – passando pelo tráfico de animais, entre outras possibilidades. Desse modo, trata-se aqui de pensar a morte também pelo seu oposto que é a vida, seja por capturas, visando, por exemplo, proteções tidas como humanitárias, ou capturas visando transações econômicas.

Considerando esses modos de emaranhamento humanimais, tentamos, portanto, buscar um debate sobre as implicações em torno da vida e da morte dos animais, enquanto práticas socionaturais ligadas à alimentação, a preocupações éticas, à biodiversidade, ao conhecimento científico ou às ações econômicas. Estes temas abrem um campo de múltiplas possíbilidades etnográficas e reflexivas sobre técnicas, moralidades e governamentalidades que envolvem a evitação, bem como a aprovação da morte dos animais a partir, inclusive, de diferentes significações.

Pensar então a caça, a pesca e outras capturas parte de um interesse que recai sobre suas formas lícitas e ilícitas, a partir de uma visão que dê centralidade aos animais, seja em sua corporalidade e agência, seja em suas representações. Do mesmo modo que nos interessamos também pelo debate a respeito da agência dos animais, bem como da existência de jogos (Almeida Filho, 2020). em torno da tensão entre atividades como a pesca, por exemplo, sejam jogos artesanais ou industriais. Assim, buscamos mobilizar trabalhos a fim de debater e refletir sobre a morte, de animais, bem como o seu oposto que é a vida, nos perguntando como esse jogo de relações é formado, transformado e/ou tensionado, além de pensar sobre como se contradizem para a formação e legitimação de políticas intervencionistas, institucionais ou não, que autorizam ou desautorizam tais relações.

A pesca não industrial, conhecida como pesca artesanal, por outro lado, é tanto fonte de alimento como elemento lúdico. As espécies que aparecem nas pescarias, são ora um recurso a ser capturado, ora coparticipantes de práticas, mas também um outro que ensina, que impõe sua territorialidade; outras vezes, um outro para domesticar e cuidar, um símbolo do natural, membro dos coletivos humanimais que habitam o meio ambiente. “As temporalidades da prática social, muitas vezes, são regidas pelos ciclos de crescimento e reprodutivos das espécies em extração.  Nesse sentido, este calendário representa um registro do ponto de vista nativo sobre o ecossistema, suas implicações podem gerar uma identidade baseada nesse conhecimento. Fatores como salinidade da água, correntes, temperaturas são levados em consideração na definição dos locais de pesca” (D’Ambrosio;2023, p.28).  Esse conhecimento leva a organizar o momento da busca por uma ou outra espécie. Tais conhecimentos funcionam como dispositivos e são “atribuíveis à experiência e, em virtude de sua utilização no desempenho diário da profissão, também são permanentemente atualizados por meio de ratificações e retificações” (Colaço, 2015, p. 95). Os dados etnográficos muitas vezes mostram ​​que a separação entre o domínio animal, referente aos peixes capturados pelos pescadores, assume diversas formas. E que “as características que definem os limites entre o homem e os animais se misturam para dar ordem a este mundo.  Vestígios daquilo que é comummente associado ao comportamento humano indicam, por exemplo, como se comportam determinados peixes” (Colaço, 2015, p. 268). O presente dossiê pretende reunir questões sobre as implicações em torno da vida e da morte dos animais, enquanto práticas socionaturais ligadas à alimentação, a preocupações éticas, à biodiversidade, ao conhecimento científico ou às ações econômicas.

 

As/os autores/as devem submeter seus textos, seguindo as normas do periódico, por meio do portal https://periodicos.ufrn.br/vivencia/index até o dia 02 de março de 2025. O número está previsto a ser publicado para o primeiro semestre de 2025. A revista Vivência publica textos em português, espanhol, inglês e francês.

Para mais informações, enviar mensagem para o e-mail vivenciareant@yahoo.com.br indicando como assunto da mensagem o tema do dossiê: Caça, pesca e outras capturas: jogos de relações entre humanos e animais"

É indispensável que as/os autores observem as normas da Vivência [em: https://periodicos.ufrn.br/vivencia/about/submissions] antes de submeterem as suas propostas.