“Se eu não tivesse estudado, eu seria mais uma Madalena”

o parentesco como atualizador da falsa abolição brasileira

Autores

  • Vinícius Venancio Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.21680/2446-5674.2022v9n17ID28088

Palavras-chave:

Antropologia do Parentesco, Compadrio, Trabalho doméstico, Falsa abolição

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo traçar uma reflexão inicial sobre uma situação muito comum, mas pouco analisada com maior densidade na literatura das ciências sociais brasileiras: o caso de meninas-moças negras e pobres que têm a sua infância e juventude roubada para trabalhar na casa de padrinhos e madrinhas, estes frequentemente pertencentes às elites locais. Para isso, traço a história de vida de Val, que aos nove anos foi morar com a sua madrinha e, a partir dela, reflito sobre como essa estratégia de parentesco a partir do compadrio atua como uma atualização da dominação racial no período pós-abolição brasileiro.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Vinícius Venancio, Universidade de Brasília

Professor voluntário na Universidade de Brasília. Doutorando e Mestre (2020) em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. Integra os Grupos de Pesquisa de Etnologia em Contextos Africanos e de Etnografia das Circulações e Dinâmicas Migratórias e o Comitê de Estudos Africanos da ABA. Atualmente realiza pesquisa sobre circulações e trajetórias de mulheres oeste africanas em Cabo Verde, país onde/sobre o qual realiza pesquisas desde 2016.

Referências

ALMEIDA, Miguel Vale de. O Atlântico Pardo. Antropologia, pós-colonialismo e o caso “lusófono”. In: BASTOS, Cristiana; DE ALMEIDA, Miguel Vale; FELDMAN-BIANCO, Bela (Ed.). Trânsitos coloniais: diálogos críticos luso-brasileiros. Imprensa de ciências sociais, 2007. p. 27-37.

ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.

ALVES, Raissa Roussenq. 2017. Entre o silêncio e a negação: uma análise da CPI do trabalho escravo sob a ótica do trabalho “livre” da população negra. Dissertação (Mestrado em Direito)—Universidade de Brasília, Brasília, 2017.

BENTO, Maria Aparecida da Silva. 2002. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Peões, pretos e congos: Trabalho e Identidade Étnica em Goiás. Brasília: Editora UnB, 1977.

CARSTEN, J. A Matéria do Parentesco. R@U, v. 6, n. 2, p. 103-118, 2014.

COLLINS, Patrícia Hill. Como alguém da família: raça, etnia e o paradoxo da identidade nacional norte-americana. Revista Gênero, v. 8, n. 1, p. 27-52, 2007.

COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. Boitempo Editorial, 2021.

Damásio, Ana Clara. “Olho de Parente” e o “Olho Estranho”: Considerações etnográficas sobre Viver, Olhar, Ouvir, Escrever e Permanecer. Novos Debates, v. 7, n. 1, p.1-20, 2021. https://doi.org/10.48006/2358-0097-7103

DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil. Rocco: Rio de Janeiro, 1986.

FORTES, Meyer. O ciclo de desenvolvimento do grupo doméstico. Brasília: Ed. UnB, 1974.

GONZÁLEZ, Lélia. Por um feminismo afrolatino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

LOBO, Andréa. Crianças em cena. Sobre mobilidade infantil, família e fluxos migratórios em Cabo Verde. Revista de Ciências Sociais Unisinos, v. 49, p. 64-74, 2013.

LOBO, Andréa; CARDOSO, Maria Eduarda. “Em nome da família brasileira”: sobre políticas de governo, (re)produção de elites e disputas narrativas. Antropolítica - Revista Contemporânea de Antropologia, n. 53, p. 53-82, 2021.

LOPES, Juliana Araújo. 2020. Constitucionalismo brasileiro em pretuguês: trabalhadoras domésticas e lutas por direitos. Dissertação (Mestrado em Direito) - Universidade de Brasília, Brasília, 2020.

MOGUÉROU, Laure et al. Les femmes chefs de ménage célibataires à Dakar et à Ouagadougou. In: CALVÈS, Anne E.; DIAL, Fatou Binetou; MARCOUX, Richard. (Org.). Nouvelles dynamiques familiales en Afrique. Québec: Presses de l’université du Québec, 2018. p. 93-118.

NASCIMENTO, Abdias. O Genocídio do Negro brasileiro – Processo de um Racismo Mascarado. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978.

RADCLIFFE-BROWN, ALFRED. Introdução. In: RADCLIFFE-BROWN, Alfred; FORDE, D. . (Orgs.) Sistemas políticos africanos de parentesco e casamento. Lisboa: F. Calouste Gulbenkian, 1982 [1950]. p. 11-101.

RARA, Preta. Eu, empregada doméstica: a senzala moderna é o quartinho da empregada. Editora Letramento, 2020.

SCHNEIDER, David M. Parentesco americano: uma exposição cultural. Petrópolis: Vozes, 2016.

SILVEIRA, Liane Maria Braga da. Como se fosse da família: a relação (in)tensa entre mães e babás. 2011. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – PPGAS/Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, 2011.

VENANCIO, Venancio; LIMA e SILVA, Juliana. O Problema I: “Nada será como antes, amanhã”: Antropólogues negras/os movendo a Antropologia Brasileira. Novos Debates, v. 7, n. 2, p. 1-14, 2021.7(2). https://doi.org/10.48006/2358-0097-7221.

Downloads

Publicado

21-09-2022

Como Citar

VENANCIO, V. “Se eu não tivesse estudado, eu seria mais uma Madalena”: o parentesco como atualizador da falsa abolição brasileira. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, [S. l.], v. 9, n. 17, p. 1–16, 2022. DOI: 10.21680/2446-5674.2022v9n17ID28088. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/28088. Acesso em: 17 abr. 2024.