Protagonismos Indígenas
Certa vez, Ailton Krenak relatou em uma conferência, que se transformou no capítulo “ O eterno retorno do encontro” do livro “A outra margem do ocidente”, que os encontros (e desencontros) entre indígenas e não indígenas não estão limitados ao período colonial, eles ocorrem todos os dias e vão continuar acontecendo. Essa fala foi uma proposta de reflexão sobre o eterno encontro com o Outro, aquele que é diferente de nós. Mas também serve como um alerta de que aquele encontro dos 1500 continua ocorrendo tal qual o foi, não somente com o estranhamento, mas também com os conflitos.
Hoje, dia 19 de abril, foi institucionalizado como “Dia do índio”, mas, como já dizia Daniel Munduruku, comemorar o dia do índio é comemorar uma ficção, uma ideia folclórica e preconceituosa que precisa ser repensada a partir desses encontros e reencontros. Em resposta a essa data institucionalizada, os povos indígenas ressignificaram o dia 19 de abril e passaram a refletir sobre ele como mais um Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas. Além do 19 de abril, que também marca uma série de campanhas que envolvem o mês inteiro como o Acampamento Terra Livre, o Abril Vermelho, entre outros; chamamos a atenção e a discussão para outras datas envolvendo as lutas dos povos indígenas como o 09 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, e o 05 de setembro, Dia Internacional da Mulher Indígena, que são reveladoras de que uma data institucionalizada para delegar aos povos indígenas o papel de personagens do passado pode ser repensada, como também aponta para a intensa articulação desses povos e o debate que vem ganhando mais evidência nas últimas décadas. Afinal, a luta dos povos indígenas é diária, não se restringe a uma data.
Essa luta é diária porque os ataques aos direitos dos indígenas também são cotidianos. Ataques ao direito de reconhecimento da sua identidade étnica diferenciada, a uma Educação Indígena que valorize suas línguas e tradições, à demarcação de seus territórios tradicionais. Como já dizia Célia Xakriabá sobre a cor do Brasil: “ele é negro, é marrom cor de terra, é multicolorido, mas também é vermelho, porque nossas terras foram lavradas com sangue indígena e negro. E, a cada processo de luta territorial, este vermelho ainda jorra”. Hoje não podemos comemorar, hoje devemos refletir e apoiar a luta diária dos povos indígenas. E como fazer isso? Dando voz e vez a eles!
Célia se refere aos encontros que Krenak relatou na sua conferência, encontros que ainda estão pautados no estranhamento ao Outro e na violência que mata lideranças indígenas com uma frequência assustadora. Por isso, hoje não podemos comemorar, hoje devemos refletir e apoiar a luta diária dos povos indígenas. E como fazer isso? Dando voz e vez a eles!
Pesquise, se informe! Esse texto traz algumas de tantas outras referências que podem e devem ser consultadas para saber a situação dos povos indígenas na atualidade.
Falar sobre os povos indígenas é reconhecer sua identidade étnica diferenciada e todo o processo de violência e expropriação que estes “encontros” causaram. É reconhecer seus direitos e as violações que eles sofreram e sofrem. Falar dos povos indígenas é falar do hoje, do agora, do urgente!
Texto e imagem: Ristephany Kelly da Silva Leite
A Revista Espacialidades convida todos e todas a conhecerem os dossiês “Índios e Espaços: visibilidade e protagonismo históricos” (v. 15 n. 02) e “Protagonismos Indígenas no Espaço Escolar” (v. 16 n. 01), que, juntos, exprimem o empenho da Espacialidades em situar a história e a cultura dos povos indígenas como protagonistas, analisando – por diversas vertentes – a relação entre a História Indígena e a produção dos espaços.