O fim do mundo ainda demora

novas missivas em nome de Jacques Derrida, a partir da literatura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21680/1983-2435.2023v8n2ID31513

Palavras-chave:

Jacques Derrida, Luto, Fim do Mundo, Escrita da perda

Resumo

O artigo tem três movimentos concomitantes, que buscam se relacionar a partir de uma não sobreposição entre teoria e prática, quando da análise de excertos literários em torno de escritas do luto. Em um primeiro momento, apresentam-se pressupostos derridianos em torno do fim do mundo, não como uma categoria total, ou seja, o Mundo, mas sim de uma equalização segundo a qual, a partir da morte de uma pessoa amada, se chega ao fim de um mundo, específico. Nesse instante, pensa-se, correlato ao primeiro movimento, o segundo, que apresenta certas passagens de O ano do pensamento mágico, de Joan Didion, e Aos prantos no mercado, de Michelle Zauner, de modo tanto a conseguir dar continuidade ao pensamento derridiano, quanto complicá-lo, colocar outras tantas questões à equalização do momento anterior. Por fim, sugere-se o oposto, a partir da noção segundo a qual se entende que o Mundo, quando descrito como um só, é uma versão eurocentrada e Moderna do mesmo, tendo como ápice o Antropoceno, vendo no fim do Mundo uma ideia positiva, bem-vinda, por colocar como fim também a experiência colonial, racista, que sustenta o projeto de Modernidade. Esse movimento é amparado pela obra de Jennette McCurdy, I'm glad my mom died, antes do fim do texto, que arremata os movimentos anteriores e tenta, assim, pensar o fim do mundo como uma chave interpretativa dos vivos, de si para si.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fabio Pomponio Saldanha, Universidade de São Paulo (USP)

Fabio Pomponio Saldanha desenvolve pesquisa de Doutorado no Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada (DTLLC), na Universidade de São Paulo (USP), com financiamento concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo 2022/15480-7. É graduado em Letras (Português-Japonês) pela mesma Universidade. E-mail: fabio.saldanha@usp.br.

Referências

ARANTES, Paulo E. Formação e desconstrução: uma visita ao museu da ideologia francesa. São Paulo: Editora 34; Duas Cidades, 2021.

CRITCHLEY, Simon; DERRIDA, Jacques; LACLAU, Ernesto; RORTY, Richard. Desconstrução e pragmatismo. Tradução de Victor Maia. Rio de Janeiro: Mauad X, 2017.

COLEBROOK, Claire. Slavery and the Trumpocene: It’s Not the End of the World. The Oxford Literary Review, v. 41, n. 1, p. 40-50, 2019.

COLEBROOK, Claire. Can theory end the world? Symploke, Nebraska, v. 29, n. 1-2, p. 521-534, 2021.

DERRIDA, Jacques. No apocalypse, not now: à toute vitesse, sept missiles, sept missives. Psyché: inventions de l'autre. Paris: Galilée, 1987.

DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: o Estado da dívida, o trabalho de luto e a nova internacional. Tradução de Anamaria Skinner. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

DERRIDA, Jacques. Terei que errar só (1995). Tradução de Luciana A. Penna. Disponível em . Acesso em 14 dez. 2022.

DERRIDA, Jacques. Comment ne pas parler. Résistances de la psychanalyse. Paris: Galilée, 1996.

DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Tradução de Cláudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

DERRIDA, Jacques. [Introduction]. Rue Descartes, Paris, n. 48, Salut à Jacques Derrida, p. 6-7, 2005.

DERRIDA, Jacques. ¿Cómo no temblar? Tradução de Esther Cohen. Acta Poética, México, v. 30, n. 2, p. 19-34, 2010.

DERRIDA, Jacques. Seminario. La bestia y el soberano. Tradução de Luis Ferrero; Cristina de Peretti e Delmiro Rocha. Buenos Aires: Manantial, v. 2, 2011.

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. Tradução de Maria B. M. N. da Silva; Pedro L. Lopes e Pérola Carvalho. Campinas: Perspectiva, 2014.

DERRIDA, Jacques. A besta e o soberano — seminário. Tradução de Marco Casanova. Rio de Janeiro: Via Verita, v. 1, 2018.

DERRIDA, Jacques. Otobiografias — o ensinamento de Nietzsche e a política do nome próprio. Tradução de Guilherme Cadaval; Arthur Leão Roder e Rafael Haddock-Lobo. Copenhague/Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2021.

DERRIDA, Jacques; BIRNBAUM, Jean. Learning to live finally: the last interview. Nova Iorque: Melville House Publishing, 2007.

DIDION, Joan. Blue nights. Tradução de Ana Maria Mesquita. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2018.

DIDION, Joan. O ano do pensamento mágico. Tradução de Marina Vargas. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2022.

EYBEN, Piero. Luto de origem: representar o que se reenvia como se…. ALEA, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 17-36, 2019.

MCCURDY, Jennette. I'm glad my mom died. Nova Iorque: Simon & Schuster, 2022.

NAAS, Michael. The end of the world and other teachable moments: Jacques Derrida's final seminar. Nova Iorque: Fordham University Press, 2014.

YUSOFF, Kathryn. A Billion Black Anthropocenes or None. Minnesota: University of Minnesota Press, 2019.

WALLACE, David F. Isto é água. Ficando meio longe do fato de já estar meio longe de tudo. Tradução de Daniel Galera e Daniel Pellizzari. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

ZAUNER, Michelle. Aos prantos no mercado: memórias. Tradução de Ana Ban. São Paulo: Fósforo, 2022. Edição digital.

Downloads

Publicado

27-08-2023

Como Citar

SALDANHA, F. P. O fim do mundo ainda demora: novas missivas em nome de Jacques Derrida, a partir da literatura. Revista Odisseia, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 20–36, 2023. DOI: 10.21680/1983-2435.2023v8n2ID31513. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/odisseia/article/view/31513. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos