O robe de Descartes: uma discussão em torno da melancolia e da origem da razão moderna [Descartes' robe: a discussion on melancholy and the origin of modern reason]

Autores

  • Ronaldo Manzi Filho Pós-doutorando (Universidade de São Paulo)

DOI:

https://doi.org/10.21680/1983-2109.2017v24n43ID10372

Palavras-chave:

Razão, Certeza, Loucura, Melancolia, Sonho [Reason, Certainty, Madness, Melancholy, Dream]

Resumo

A melancolia é descrita no século XVII na Enciclopédia de Diderot e d’Alembert como um “delírio da alma” que pode ser notado por outra pessoa através do comportamento, da linguagem, do estado de humor, etc. Mas como eu mesmo poderia saber se estou delirando ou não? Esse verbete parece ter um endereço: a própria raiz da Razão moderna. Não é esse o tema central em Descartes: a fundamentação da Razão e a possibilidade da loucura? No Discurso do método e nas Meditações metafísicas, Descartes parte de situações “fictícias”: sua própria vida, sua experiência diante de uma lareira com seu robe, etc. – fictícias porque não se sabe exatamente se se trata de um delírio ou não. Sua obra é descrita como uma fábula, como ele mesmo o diz. O tempo todo ele está diante de “fantasmas”: a possibilidade da loucura, de um Gênio Maligno... Não é exatamente essa descrição da melancolia que Descartes temia – de uma possibilidade de se viver numa “doença da alma”? Este texto busca mostrar que a Razão moderna, ao invés de tentar excluir o delírio de seu interior, é credora, no fundo, de uma reflexão que leva a sério a possibilidade da loucura.

[Melancholy is described in the eighteenth century in Diderot and d'Alembert’s Encyclopedia as a “delirium of the soul” that can be noticed by others through one’s behavior, language, mood, etc. But how could one know whether or not one is delirious? This entry seems to be addressing: the very root of modern reason. Is this not the central theme in Descartes: the foundation of Reason and the possibility of madness? In Discourse on the Method and Meditations on First Philosophy, Descartes starts from of a “fictitious” situations: his life, his experience in front of a fireplace with his robe, etc. Fictitious because it is not known exactly whether this is just a delusion or not. His work is described as a fable, as he himself says. All the time he is facing “ghosts”: the possibility of madness, an Evil Genie... It this not exactly the description of melancholy that Descartes feared – the possibility of one’s living with a “disease of the soul”? The present text goals to show that modern reason, rather than trying to exclude delirium from its interior, it owes a great deal to a reflection that takes the possibility of madness seriously.]

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Biografia do Autor

Ronaldo Manzi Filho, Pós-doutorando (Universidade de São Paulo)

Graduado em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (UCG) e formado em psicanálise pelo Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP). Possui mestrado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Radboud Universiteit Nijmegen (RUN) (co-tutela). Co-organizou os livros A filosofia após Freud (Humanitas) e Paisagens da Fenomenologia francesa (UFPR). Publicou artigos em periódicos especializados, além de diversas traduções de artigos e revisões de livros. Atua principalmente nas áreas da Fenomenologia francesa e da Epistemologia da Psicanálise. Participa do grupo de pesquisa do Laboratório de Estudos em Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (USP). É membro da International Society of Psychoanalysis and Philosophy (ISPP). Atualmente é pós-doutorando em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Bolsista Fapesp.

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Publicado

19-05-2017

Como Citar

MANZI FILHO, R. O robe de Descartes: uma discussão em torno da melancolia e da origem da razão moderna [Descartes’ robe: a discussion on melancholy and the origin of modern reason]. Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), [S. l.], v. 24, n. 43, p. 81–106, 2017. DOI: 10.21680/1983-2109.2017v24n43ID10372. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/principios/article/view/10372. Acesso em: 22 dez. 2024.