O robe de Descartes: uma discussão em torno da melancolia e da origem da razão moderna [Descartes' robe: a discussion on melancholy and the origin of modern reason]
DOI:
https://doi.org/10.21680/1983-2109.2017v24n43ID10372Keywords:
Razão, Certeza, Loucura, Melancolia, Sonho [Reason, Certainty, Madness, Melancholy, Dream]Abstract
A melancolia é descrita no século XVII na Enciclopédia de Diderot e d’Alembert como um “delírio da alma” que pode ser notado por outra pessoa através do comportamento, da linguagem, do estado de humor, etc. Mas como eu mesmo poderia saber se estou delirando ou não? Esse verbete parece ter um endereço: a própria raiz da Razão moderna. Não é esse o tema central em Descartes: a fundamentação da Razão e a possibilidade da loucura? No Discurso do método e nas Meditações metafísicas, Descartes parte de situações “fictícias”: sua própria vida, sua experiência diante de uma lareira com seu robe, etc. – fictícias porque não se sabe exatamente se se trata de um delírio ou não. Sua obra é descrita como uma fábula, como ele mesmo o diz. O tempo todo ele está diante de “fantasmas”: a possibilidade da loucura, de um Gênio Maligno... Não é exatamente essa descrição da melancolia que Descartes temia – de uma possibilidade de se viver numa “doença da alma”? Este texto busca mostrar que a Razão moderna, ao invés de tentar excluir o delírio de seu interior, é credora, no fundo, de uma reflexão que leva a sério a possibilidade da loucura.
[Melancholy is described in the eighteenth century in Diderot and d'Alembert’s Encyclopedia as a “delirium of the soul” that can be noticed by others through one’s behavior, language, mood, etc. But how could one know whether or not one is delirious? This entry seems to be addressing: the very root of modern reason. Is this not the central theme in Descartes: the foundation of Reason and the possibility of madness? In Discourse on the Method and Meditations on First Philosophy, Descartes starts from of a “fictitious” situations: his life, his experience in front of a fireplace with his robe, etc. Fictitious because it is not known exactly whether this is just a delusion or not. His work is described as a fable, as he himself says. All the time he is facing “ghosts”: the possibility of madness, an Evil Genie... It this not exactly the description of melancholy that Descartes feared – the possibility of one’s living with a “disease of the soul”? The present text goals to show that modern reason, rather than trying to exclude delirium from its interior, it owes a great deal to a reflection that takes the possibility of madness seriously.]
Downloads
References
PRADO Jr., Bento. Descartes e o último Wittgenstein. In: PRADO Jr., Bento. Erro, ilusão, loucura. São Paulo: 34, 2004. p. 77-107.
DERRIDA, Jacques. L’écriture et la différence. Paris: Seuil, 1967.
DESCARTES, René. Discurso do Método. In: DESCARTES, René. Discurso do método / As paixões da Alma / Meditações. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1999a. p. 33-100. (Coleção Os Pensadores).
DESCARTES. Meditações Metafísicas. In: DESCARTES, René. Discurso do método / As paixões da Alma / Meditações. Trad.Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1999b. p. 247-334. (Coleção Os Pensadores).
DESCARTES. Meditações sobre Filosofia Primeira. Trad. Fausto Castilho. Campinas: Unicamp, 2004.
DESCARTES. Regras para a orientação do espírito. Trad. Maria Galvão. São Paulo: M. Fontes, 2012.
DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, M. Folie. In: DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, M. Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers – pas une société de lettres – Vol. XIV. Lausanne; Berne: Sociétés Typographiques, 1781a.
DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, M. Mélancolie. In: DIDEROT, Denis; D’ALEMBERT, M. Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers – pas une société de lettres – Vol. XXI. Lausanne; Berne: Sociétés Typographiques, 1781b.
FOUCAULT, Michel. Histoire de la folie à l’âge classique. Paris: Gallimard, 1999.
FOUCAULT, Michel. Dits et écrits I, 1954-1975. Paris: Quarto; Gallimard, 2001.
FREUD, Sigmund. El Delirio y los suenos em La “Gradiva” de W. Jensen. Trad. Luis López-Ballesteros y de Torres. Buenos Aires: S. Rueda, 1953.
HEIDEGGER, Martin. Que é isto – a filosofia? In: HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 27-40. (Coleção Os Pensadores).
HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 11-38.
LEOPOLDO E SILVA, Franklin. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 1993.
MAJOR, René. Crises de razão, crises de loucura ou “a loucura” de Foucault. In: ROUDINESCO, Elisabeth; CANGUILHEM, Georges; MAJOR, René; DERRIDA, Jacques. Leituras da História da Loucura. Tradução de Maria Ignes Duque Estrada. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. P. 37-52.
MATOS, Olgária. Filosofia: a polifonia da razão. São Paulo: Scipione, 1997.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1967.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Merleau-Ponty à la Sorbonne: résumé de cours (1949-1952). Dijon: Cynara, 1988.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work simultaneously licensed under a Creative Commons Attribution License that allows others to share the work with an acknowledgement of the work's authorship and initial publication in this journal.