Do bem supremo à ética do desejo: contribuições da psicanálise à discussão ética
Abstract
No seminário de 1959-60, o psicanalista Jacques Lacan anuncia sua decisáo de abordar ali o tema da ética da psicanálise. Para uma clara compreensáo da contribuiçáo freudiana, ele resgata, como contraponto, a referência aristotélica da Ethica Nicomachea. Nessa obra, Aristóteles está em busca de um bem mais excelente, e este corresponde à felicidade. Ele pode ser alcançado pelo uso da atividade racional aliado à prática da virtude. Se, para Lacan, a investigaçáo aristotélica comporta certa idealidade, o registro psicanalítico funda-se a partir da realidade. Para isso, ele retoma a noçáo freudiana de das Ding. Como objeto da primeira experiência de satisfaçáo, das Ding fundará todo o encaminhamento do sujeito. Na estrutura neurótica, entretanto, o reencontro com das Ding é excessivo; o sujeito náo o pode suportar. É por trás dessa realidade sem predicaçáo que é das Ding que Lacan encontrará a realidade que ordena, a saber, a lei da interdiçáo do incesto. É nessa dimensáo que o sujeito, em análise, é convocado a advir. O presente estudo, portanto, tem como objetivo realizar esse percurso – do bem supremo aristotélico à ética do desejo –, apontando as contribuições da psicanálise à discussáo ética.
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