Entre autonomia e heteronomia: para uma concepção crítica de cuidado de si em Michel Foucault [Between autonomy and heteronomy: for a critical conception of care of the self in Michel Foucault]
DOI:
https://doi.org/10.21680/1983-2109.2018v25n46ID13054Palavras-chave:
Foucault, Cuidado de si, Genealogia, Sujeito, Crítica [Foucault, Care of the self, Genealogy, Subject, Critique]Resumo
Trata-se de mostrar como a ideia de “cuidado de si” deve ser compreendida a partir de um tensionamento caracterizado por um duplo movimento: por um lado, a afirmação da autoafecção como condição do processo de subjetivação; por outro lado, a necessidade de inscrever tal ipseidade no quadro mais amplo das pesquisas genealógicas centradas nas práticas de assujeitamento e dominação. Com isso, o objetivo é sugerir como o problema fundamental do último e inconcluso momento da obra de Foucault é a necessidade de repensar as condições de gênese do sujeito. Para tanto, o artigo é divido em dois momentos: primeiramente, recuperamos uma autocrítica realizada ao final da década de 70, quando, ao introduzir em suas análises o conceito de governamentalidade, Foucault une a temática do governo sobre os outros ao problema do governo de si. Em segundo lugar, analisar estrategicamente o tema da confissão (l’aveu) como exemplo do reconhecimento dessa dimensão autoafectiva da subjetividade dentro de relações de poder e assujeitamento. A partir disso, é possível assinalar certas consequências críticas em torno de uma certa “ética do cuidado de si” que seria própria ao pensamento foucaultiano.
[This article aims to show how the idea of “care of the self" must be understood from the tension of a double movement: on the one hand, the affirmation of an auto-affection as a condition to a process of individuation. On the other hand, the need to incorporate such ipseity to the broader framework of genealogical research focused on the subjugation and domination practices. Thus, my goal is to suggest how the initial problem that runs through Foucault’s later works is the need to rethink the conditions of subjectivity genesis. Therefore, the article is divided into two parts: firstly, I recover Foucault’s self-criticism performed at the end of the 70s, when he introduces in his analysis the concept of governmentality. Secondly, I strategically analyze the theme of confession (l'aveu) as an example of recognizing this auto-affectivity dimension of subjectivity even within power relations. Finally, I point out certain possible consequences of such exposure on the theme of ethics in Foucault's thought.]
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