Nem tudo que reluz é ouro: turismo e conflitos urbanos

Autores

  • Andrea de Albuquerque Vianna Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Palavras-chave:

Turismo. Conflitos Urbanos. Movimentos Sociais Urbanos. Urbanismo. Marketing Urbano.

Resumo

 

O estudo objetiva uma reflexão acerca da ação dos movimentos socioambientais a partir dos conflitos provocados pelo turismo e a compreensão sobre as respostas dadas pela cidade às alterações a que é submetida, sendo estas, observações relevantes para ampliar o conhecimento sobre o tema. A análise da atividade turística e sua relação direta com a localidade que a acolhe é questão de grande importância para a compreensão dos impactos causados por ela, tanto no cotidiano dos moradores quanto nos aspectos concretos da cidade. Entretanto, fazer o caminho inverso, partindo da ação dos movimentos socioambientais em resposta às alterações urbanas decorrentes do turismo, certamente permite um aprofundamento na questão, revelando aspectos que ultrapassam os benefícios econômicos que a atividade supostamente proporcionaria a toda a cidade, uma vez que, quando o fator econômico se sobrepõe ao social, nem tudo que reluz é ouro.


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Biografia do Autor

Andrea de Albuquerque Vianna, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Doutoranda e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFRN, turismóloga pela Unversidade Potiguar. Tem como objeto de estudo a relação Turismo-Cidades, considerando os impactos sobre a população residente, sua participação no processo e a atuação do poder público.

Referências

A cidade é uma linguagem, uma escritura. Escreve algo diante de nós. (LEFEBVRE, 1978, p.189)

O capitalismo parece esgotar-se. Ele encontrou um novo alento na conquista do espaço, em termos triviais, na especulação imobiliária, nas grandes obras (dentro e fora das cidades), na compra e venda do espaço. (LÉFÈBVRE, 2008a p.140)

A produção do espaço em si não é nova. Os grupos dominantes sempre produziram este ou aquele espaço particular, o das cidades antigas, o dos campos (aí incluídas as paisagens que em seguida parecem “naturais”). Lefebvre (2008a, p.140)

O urbanismo de vendas oculta sob uma aparência positiva e humanista, a estratégia capitalista de domínio do espaço e sua luta constante contra a queda tendencial do lucro médio (LEFEBVRE, 1999, p.141).

A lei do mercado é mais efetiva do que a norma legal. Maricato (1996, p. 26)

O crescimento quantitativo da economia e das forças produtivas não provocou um desenvolvimento social, mas, ao contrário, uma deterioração da vida social. (LEFEBVRE 2008a, p.11)

Expressão e resposta que setores da população dão às contradições geradas pelo próprio desenvolvimento urbano, contradições essas expressas nas “carências urbanas” ou na ação do Estado. (ANDRADE, BORGES, FERREIRA e SOUZA, 1987).

Infelizmente o turismo vem contentando-se com ilhas de prazer, além de cujos limites ninguém se responsabiliza pelo que puder acontecer. Não se tem consciência objetiva de que turismo e miséria (e tudo o que ela traz consigo) são incompatíveis. (Yázigi, 1996, p.51).

Movimentos Sociais Urbanos são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas. (GOHN, 2007, p.13)

Movimentos Sociais Urbanos, acrescenta-se, ainda, outra definição: “Ação coletiva da população no sentido de evitar a degradação das condições de vida na cidade e/ou de interferir na ação do Estado no urbano”. (ANDRADE, BORGES, FERREIRA e SOUZA, 1987).

(...) o resultado de uma história que deve ser concebida como a atividade de “agentes” ou “atores sociais”, de “sujeitos” coletivos operando por impulsos sucessivos, projetando e modelando de modo descontínuo (relativamente) extensões de espaço. Esses grandes grupos sociais, compreendendo classes e frações de classes, assim como instituições que seu caráter de classe não é suficiente para definir (a realeza ou a municipalidade) agem uns com e/ou contra os outros. As qualidades e “propriedades” do espaço urbano resultam de suas interações, de suas estratégias, seus êxitos e derrotas. (LEFEBVRE, 1999, p.117)

[...] três unidades turísticas, com a construção de cinco hotéis de até 15 andares, a residência oficial do governador, o Instituto de Biologia Marinha, um Centro de Convenções, uma área de camping, restaurantes e outros equipamentos de lazer, além da construção de uma rodovia estruturante – a Via Costeira -, do Parque das Dunas e de unidades de preservação ambiental. (FONSECA, 2005, p.119)

[...]Não existia realmente grande interesse da iniciativa privada em investir no setor, porque não havia grande demanda que justificasse esse interesse. Posteriormente, com a abertura do setor turístico, esse interesse veio a surgir e permitiu atrair investidores tanto do Estado como de outros Estados para o setor, realmente complementando a necessidade de oferta de aposentos em função de uma procura que estava crescendo. (CAVALCANTI, 1993, p.113)

[...] as ações do Estado materializadas em políticas públicas, não são obra do acaso, nem expressam uma resposta isolada deste; situam-se no processo social, consequentemente, na estrutura social e nos movimentos conjunturais que expressam as contradições sociais básicas e o jogo de interesses presentes nos diferentes momentos. No confronto desses interesses, o Estado tenta impor os interesses que defende, que no País representam interesses ligados ao padrão de acumulação decorrente do modelo de desenvolvimento implantado. E esta articulação tem no espaço urbano seu lugar principal. (CAVALCANTI, 1993, p.35)

“um espaço que há muito deixou de ser neutro, geográfica e geometricamente, e tem sido instrumentalizado para diversos fins” (LEFEBVRE, 2008b, p.8).

“o espaço é político e ideológico, é um produto social. O espaço sempre foi político e estratégico”. (LEFEBVRE, 2008b, p.8).

O espaço, a terra, o solo não desapareceram, absorvidos pela produção industrial; ao contrário, integrados ao capitalismo, eles se afirmaram como elementos em sua extensão, uma extensão ativa. O capitalismo não só apreendeu o espaço preexistente, a terra, mas tende a produzir seu próprio espaço. Através da urbanização, sob a pressão do mercado mundial. Sob a lei do reprodutível e do repetitivo, eliminando as diferenças no espaço e no tempo, destruindo a natureza e o tempo natural. A ciência econômica, fetichizada em mercados mundiais e seu espaço, juntamente com a política levada ao absoluto, com o risco de destruir seu próprio alicerce, a terra, o espaço, a cidade e a zona rural, e consequentemente de destruírem-se a si mesmas. (GOTTDIENER,1993, p.134)

Os movimentos populares urbanos podem contribuir para a conquista de espaços efetivos de participação popular no interior da sociedade civil. Podem, ainda, contribuir para a alteração da lógica da apropriação e uso do espaço urbano, pela alteração das leis de uso e ocupação do solo (...) (SANTOS, 2008, p.17).

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Publicado

01-07-2015

Como Citar

VIANNA, A. de A. Nem tudo que reluz é ouro: turismo e conflitos urbanos. Revista de Turismo Contemporâneo, [S. l.], v. 3, n. 1, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/turismocontemporaneo/article/view/5581. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos