Wolfgang RIHM – Dionysos: uma escrita dos espaços interiores
DOI:
https://doi.org/10.36025/arj.v2i1.7041Palavras-chave:
Fantasia operística, música-teatro, ditirambo, composição vegetativa, obra totalResumo
A “fantasia operística” Dionysos – cenas e ditirambos a partir de textos de Friedrich Nietzche” para solistas coro e orquestra – do compositor alemão Wolfgang Rihm (1953) é uma obra operística não narrativa: uma anti-narrativa aberta de música-teatro em múltiplas dimensões, constituída de cenas e ditirambos em quatro planos ou “lugares”. As cenas musicais abertas remetem aos momentos importantes da vida de F. Nietzsche (sem narrar uma história) e acima de tudo às idéias universais de sua filosofia.
O processo composicional – Rihm escreve simultaneamente a música, o texto e os quadros cênicos – é uma invenção contínua da linguagem musical múltipla e plurivalente, sem um texto preliminar a ser musicado e sem a composição musical como acompanhamento de uma dramaturgia cênica. O texto utilizado é uma composição livre de Rihm a patir de fragmentos provenientes de diversos textos de Nietzsche.
Se as cenas ou quadros da “fantasia operística” são “os recipientes” (Rihm) de desdobramentos músico-cênicos múltiplos, os personagens são espaços flexíveis, moventes, variáveis, com papéis plurais em permanente transformação. As fronteiras entre os personagens – assim como as fronteiras entre os textos, os estilos, as situações cênicas – se tornaram permeáveis e fluidas, e mesmo assim reconhece-se facilmente os papéis principais que preservam sua integridade reconhecível em todas as situações.
Os processos da composição vegetativa, de integração metabólica das citações com suas remissões a estilos e épocas distanciadas, assim como as metáforas imagéticas do domínio da botânica que Rihm frequentemente emprega, confirmam sua filiação à grande tradição ocidental, sempre em busca de uma unidade orgânica da obra-total, e isto apesar das livres associações no movimento do pensamento. Lançando mão unicamente de textos provenientes das obras de Nietzsche e sendo fortemente influenciado pelo pensamento do filósofo, Rihm propõe uma interpretação músico-cênica inovadora do fenômeno Nietzsche, que permanece inevitavelmente marcada pela grande tradição cristã ocidental.
Tradução do francês: Guilherme Sauerbronn
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