Chamada para Publicação - Vol. 17, n° 2
Corpos negros e espaços: Luta e representatividade na história
Prazo: 20/12/2020
A formação histórica do território brasileiro foi marcada pela escravidão. Desde o século XVI mulheres e homens negros foram trazidos forçosamente do continente africano e utilizados como mão de obra na economia urbana e rural. A escravização dos corpos negros ocorreu em todo o mundo devido a contraposição do corpo negro ao corpo branco, sendo esse taxado como inferior, abominado, excluído. Como afirma Achille Mbembe (2018), filósofo camaronês, o corpo negro é humilhado e profundamente desonrado na ordem da modernidade. O Negro é o único dos seres humanos cuja carne foi transformada em objeto e o espírito em mercadoria. Mesmo após a libertação dos escravos em 1888 - resultado das ações de resistência dos escravizados e das lutas do movimento abolicionista - a população preta e parda brasileira ainda sofre com a negação de direitos básicos e a desigualdade na distribuição de renda. Desse modo, torna-se possível a discussão das relações entre o negro e os espaços que ocuparam e ocupam em nossa sociedade. Estes espaços os desafiam, pois são lugares impostos por uma sociedade racista, excludente, e que ao serem contrapostos pelos negros, fazem o tornar-se sujeitos históricos.
A edição nº 17.2 da Revista Espacialidade, traz a público o Dossiê Temático Corpos negros e espaços: Luta e representatividade na história, que tem como foco trabalhos que valorizem a experiência histórica do negro, suas lutas, memórias e história. Interessa-nos contribuições que problematizam a complexidade das relações étnico-raciais a partir de uma abordagem: social, estética, sexual, religiosa, jurídica, econômica, filosófica, educacional, de gênero e de poder político e simbólico. O dossiê serve de força motriz para a reflexão sobre o racismo, a escravidão, o pós-abolição e o ensino de história da cultura africana e afro-brasileira, com temas evidenciando o protagonismo de negros e negras em diferentes contextos sociais, destacando a habilidade de resistência, de confronto, de recusas racistas e colonialistas com o intuito de produzir conhecimento, e com isso passar a ocupar os espaços que o racismo tenta interditar.
O segundo volume de 2021 da Revista Espacialidades pretende divulgar artigos que versem sobre as experiências do povo negro e o seu papel como sujeitos protagonistas de suas histórias, ligadas a discussão dos mais diversos conteúdos e métodos que perpassam a espacialidade, envolvendo questões ligadas à narrativa, linguagem, intelectualidade, biografia e arte. Ressalta-se ainda que este dossiê não se restringe apenas às pesquisas circunscritas ao Brasil, e encoraja colaborações que exploram e investigam outras interações espaciais no Mundo Atlântico.
Também serão aceitos artigos da temática livre que atendam ao escopo da Revista, concernentes aos conceitos espaciais (território, espaço, lugar, paisagem, deslocamento, domínio, fronteira, horizonte, entre outros) e suas múltiplas relações com o tempo e ações humanas. Além disso, serão aceitas resenhas, entrevistas, traduções e transcrições de fontes que contemplem as categorias espaciais.