PARA UMA PANDEMIA, UM REPERTÓRIO DE FEITIÇO.
Silêncio! O velho é o dono do mundo.
DOI:
https://doi.org/10.21680/1982-1662.2020v3n28ID21819Resumo
O presente artigo traz alguns trechos de um depoimento que começou a ser elaborado bem no final do mês de março (2020) depois do anúncio da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que estávamos enfrentando uma pandemia de Covid-19. Eu sou coordenadora de um curso de graduação, sou mulher negra, sapatão e macumbeira que vive na amazônia, na cidade de Santarém, no Pará, desde 2011. A primeira parte deste texto narra alguns episódios de como a universidade onde eu trabalho recebeu as notícias da pandemia e foi paulatinamente, por força de uma atuação incisiva de muitos colegas docentes, técnicas administrativas e discentes, fechando as portas e impedindo que as atividades presenciais continuassem a despeito de orientações mais erráticas de alguns setores da instituição. O que se passa é uma descrição auto-etn(Ori)gráfica e análise de como nós mulheres negras que atuamos desde dentro das universidade pública no país colocamos o nosso repertório de ação política para a proteção das nossas comunidades. Para pensar sobre que tipo de política é esta que fazemos, eu trago algumas ferramentas analíticas presentes e em operação no interior de algumas concepções filosóficas das comunidades tradicionais de Terreiro. A este respeito eu vou utilizar as noções que definem o que são os Exus nomeados como Lalu e Gelu para nos ajudar a descrever e refletir sobre o que nós mulheres negras professoras estamos fazendo neste momento cheio de perigos trazidos pela pandemia Covid-19, e pela “política de morte em série” que tem sido conduzida pelo governo Federal.