MARCEL PROUST PARA ALÉM DAS MADELEINES. UMA CULINÁRIA INDÓCIL
Resumo
Para além da clássica e dócil imagem do chá com madeleines na literatura de Marcel Proust pode-se falar em uma culinária proustiana que é indócil. Como essa culinária pode ser definida e delineada? O objetivo deste trabalho foi tentar responder a estas questões a partir do texto literário Em busca do tempo perdido. O conceito de culinária é pensado por uma perspectiva antropológica que a compreende como sistema cultural alimentar. A ideia de Indócil, delineada sob um viés multirreferencial, funciona como um dos guias centrais da pesquisa. Para lograr o objetivo desta investigação foram realizadas leituras da obra e uma posterior documentação em um arquivo digital que subsidiou a análise. Proust sugere que seu romance não representa uma sistematização em um corpo único e inteligível, mas o estudo de grandes leis e generalidades. Partindo desta afirmação, os resultados demonstram que a culinária indócil pode ser caracterizada por cinco grandes leis dietéticas: (1) a cozinha é lugar de potência; (2) a feira é espaço que instaura uma poética dos alimentos; (3) a escassez pode produzir penúria ou ser a condição da criação; (4) o obeso é maligno porque demarca um regime de resistência; (5) os dispêndios da condição humana também são mediados pela boca. Acredita-se que o exercício de pensar uma culinária indócil abra portas para a busca por uma Nutrição indócil: que dê espaço para práticas e discursos postos à parte de seu cânone, que reflita sobre a produção de suas enunciações de verdade e que compreenda que alimentar-se é um ato que se instaura nas macro e micropolíticas da vida.