ANIMAIS COMO PESSOAS? O LUGAR DOS ANIMAIS NA COMUNIDADE MORAL
Keywords:
Comunidade moral, Animais humanos e não-humanos, Pessoas não-humanas, Especismo, Direitos dos AnimaisAbstract
questão do status moral dos animais e de outros seres
vivos tem gerado bastante controvérsia nos meios de comunicação,
principalmente entre filósofos e cientistas. Esta questão
recentemente adquiriu uma dimensão política no Brasil, tornandose
relevante socialmente. A discussão filosófica atual trata da
moralidade da utilização dos animais seja para a criação e abate
para o consumo humano, seja para a pesquisa visando o
desenvolvimento de novos medicamentos, seja para a diversão,
jogos, esportes. Em geral, nestes processos os animais são
submetidos a situações de stress e sofrimento. O objetivo deste
artigo é avaliar se considerar os animais pessoas é um bom
argumento ético para justificar uma mudança de comportamento do
homem em relação aos animais. Uma primeira posição argumenta
que elevar o status moral do animal por diferentes aspectos reduz o
hiato tradicional entre seres considerados racionais e seres
irracionais, permitindo desfazer muitos equívocos gerados por esta
distinção. Uma segunda posição aceita também que não se pode
restringir a comunidade moral aos humanos. O conceito de pessoa é
abandonado e substituído pelo conceito de ‘sujeitos-de-uma-vida’.
Esse significa os seres (humanos ou animais) dotados de certas
capacidades e habilidades mentais, como, por exemplo, senciência,
autoconsciência, percepção de futuro e passado, memória
biográfica, a posse de uma identidade psicológica atemporal, entre
outras. Sujeitos-de-uma-vida são considerados os seres que não
estão apenas conscientes do mundo, mas cujas vidas têm
continuidade e um valor próprio inquestionável, que fundamenta os
direitos de tais indivíduos. Por último, considera-se a posição mais
pragmática das três que afirma que as duas posições anteriores são
impotentes para mudar a atitude dos humanos frente aos animais,
pois o problema reside antes de tudo no estatuto jurídico dos
animais, ou seja, no fato de que eles são propriedades dos homens.
Conclui-se que, apesar de a definição do conceito de pessoa ser
diferente nos argumentos dos autores, isso não compromete por si o
objetivo da proteção dos animais, apenas provoca a necessidade de
os autores sempre disputar os limites (ampliando-os ou reduzindoos)
do universo dos indivíduos que estão sob o conceito de acordo
com a nossa sensibilidade moral para com a vida dos animais nãohumanos
e com o conhecimento científico disponível.
Downloads
References
BEAUCHAMP, T. L. Rights Theory and Animal Rights. In: BEAUCHAMP, T. L.; FREY, R. G. Oxford Handbook of Animal Ethics. Oxford: O. U. P., 2011, p. 198-227.
CALLENBACH, E. Ecology: a pocket guide. 10ed. Berkeley: Univ. of California Press, 2008.
DE OLIVEIRA, G. D. A Teoria dos Direitos Animais humanos e não-humanos de Tom Regan. ethic@, Florianópolis, v. 3, n. 3, p. 283-299, Dez. 2004.
FELIPE, S. Da igualdade. Peter Singer e a Defesa Ética dos Animais Contra o Especismo. Philosophica. n.17/18, [Lisboa] 2001, p. 21-48. 77
Ricardo Bins di Napoli
FRANCIONE, G. Animals as persons. New York: Columbia Univ. Press, 2008.
GIANNETTI, E. O Valor do amanhã. São Paulo: Cia das Letras, 2005.
GloboNewsPainel.http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/10/mudanca-no-codigo-florestal-favorece-quem-esta-ilegal-afirma-biologo.html. Acessado em 10.11.2012.
LOURENÇO, D. B. Direitos dos Animais. Porto Alegre: Sergio Fabri, 2008.
LOW, Philip. The Cambridge Declaration on Consciousness.
http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf Acessado em 7.11.2012.
MARKUS, E. The meat Market. Boston: Brio Press, 2005.
REAGAN, T. The case for animal rights. Berkeley: Univ. of California Press, 2004.
SINGER, P. Practical Ethics. 2a. Ed. Cambridge: Cambridge Univ. Press, 1993.
SINGER, P. Ética Pratica. 1 a. ed. brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
SINGER, P. Practical Ethics. 3a. Cambridge: Cambridge Univ. Press, 2011.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work simultaneously licensed under a Creative Commons Attribution License that allows others to share the work with an acknowledgement of the work's authorship and initial publication in this journal.