A ética da formação de professores numa educação de salário mínimo
Resumo
Não sei se esse é o momento certo para se falar de ética ou se esse é um conceito fora de moda, cafona para os dias de hoje. Quando me disseram que deveria fazer uma palestra sobre assunto de minha escolha, na oportunidade de vir até aqui para participar de uma Banca de Exame de Dissertação de Mestrado, fiquei em dúvida, a princípio, sobre o tema a abordar e foi a própria dissertação examinada que me sugeriu permanecer no âmbito do problema da formação dos professores no Brasil. E de pronto me surgiu um título como âncora para a reflexão com os presentes: a ética da formação dos professores numa educação de salário mínimo. Mas, para não parecer deboche, resolvi mudar o título para: a ética da formação de professores em tempos de crise. Isto não muda em nada a realidade à qual eu quero me referir pois, a expressão educação de salário mínimo me parece bastante apropriada para caracterizar o estágio atual em que se encontra a educação pública e fundamental no Brasil. Por um lado a população que freqüenta as escolas públicas de primeiro grau vem das camadas cuja renda é predominantemente o salário mínimo e, por outro, os professores que aí ministram o ensino (cuja maior fatia está entregue aos municípios) raramente chegam a essa faixa de salário, embora reze a nossa mais recente Constituição, em seu artigo 7, que é um direito do trabalhador rural e urbano o salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, etc, etc... Também não é fora de propósito se falamos de educação em tempos de crise, mesmo que alguns possam me contestar dizendo que a nossa educação nunca esteve sem crises. Sim, podemos aceitar que nunca nesse domínio tivemos boas estatísticas mas, para citar apenas o exemplo de uma pesquisa realizada no Estado de Sergipe, foi constatado que, em 1930, os professores primários, diplomados pela Escola Normal, se distribuíam por povoados, vilas e cidades, e recebiam salários que atingiam em média cerca de 50% dos salários dos juízes de direito, enquanto em 1980 a relação chega apenas a aproximadamente 8%. Perderam os professores em salário, em respeito e valorização social pois inúmeros depoimentos comprovam que juízes, padres e professores eram, outrora, as maiores autoridades nas cidades e vilas. Podem me contestar que sem dúvida houve uma democratização do ensino, e hoje qualquer criança tem acesso à escola, o que não ocorria antigamente. Sim, mas a que escola têm eles acesso? A uma escola que perdeu os seus objetivos, que não reconhece as suas finalidades? Justamente sobre este aspecto é que vou me deter em primeiro lugar, isto é, sobre as finalidades da escola, para, em seguida, discutir com vocês um segundo aspecto que seria: a procura de uma ética capaz de guiar a ação de formar professores no contexto atual.
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