O evangelho segundo a pastoral da criança: por uma pedagogia da sobrevivência
Resumo
Pesquisa, desenvolvida no bairro Parque dos Coqueiros, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte, analisa a ação socioeducativa da Pastoral da Criança como pedagogia da sobrevivência, cultivada entre as populações pobres. Utiliza os pressupostos teórico-metodológicos da entrevista compreensiva (Jean Kaufmann), observação participante (Robert Bogdan) e análise documental (Le Goff); trazendo à reflexão conceitos como estratégias, táticas e as artes de fazer (Michel de Certeau), configuração (Nobert Elias), tecnologias de controle (Michel de Foucault), ética do cuidado (Leonardo Boff) e etnoteorias (Natália Ramos). A Pastoral da Criança é um organismo de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, criada no município de Florestópolis, Londrina (Paraná), no ano de 1983. Expressa uma nova lógica de ação da Igreja Católica, valorizando a participação dos leigos na ação pastoral e elegendo a paróquia como núcleo irradiador da Doutrina Social da Igreja. Desde 1985, no Rio Grande do Norte, a instituição vem orientando famílias pobres quanto ao cuidado com a saúde dos filhos e conta com a participação efetiva dos leigos num trabalho voluntário, que também é devoção, firmado numa mística individual e de grupo. A intervenção possui três eixos: 1) a visitação domiciliar mensal para o acompanhamento materno-infantil; 2) o Dia da Celebração da Vida para a pesagem das crianças, promove a vigilância nutricional; 3) e a Reunião de Avaliação e Reflexão, que articula os líderes comunitários para pensarem sobre os problemas presentes na ação socioeducativa que realizam. Esse “tripé da ação”, assim denominado pelos Agentes Pastorais, é modalidade de ação estratégica que fundamenta uma pedagogia para a sobrevivência das crianças pobres de 0 a 6 anos de idade. Os familiares aprendem a lidar com a prevenção, o essencial, o alternativo e as probabilidades na produção de táticas de escape, frente às condições de exclusão ou mesmo de extermínio social. Dessa maneira, a Pastoral da Criança recupera o sentimento de infância nos bolsões de pobreza e influencia na diminuição da desnutrição e da mortalidade materno-infantil. Essa pedagogia da sobrevivência firma-se no ensinar-aprender as artes de cuidar da criança pobre. Trata-se de uma ação social e educativa, não assistencialista, mas ainda tímida na mobilização das comunidades acompanhadas para a emancipação e mudança da condição social.