ROGER BASTIDE:
nas trilhas da sociologia em escala individual
DOI:
https://doi.org/10.21680/1982-1662.2019v2n24ID17500Abstract
As teorias sociológicas atuais têm instrumentalizado novas chaves analíticas para a compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos. Não raro, todavia, evocam reflexões lançadas por autores do período fundante ou de consolidação da disciplina. É pertinente observar que há muitas formas de um clássico permanecer no pensamento dos contemporâneos, seja pela continuidade ou desdobramentos de suas ideias, seja pela persistência dos problemas encarados. Nesse sentido, este artigo propõe-se a revisitar algumas noções, especialmente as que se referem à interpenetração das civilizações, presentes nas obras de Roger Bastide – um clássico hoje bastante esquecido – e correlacioná-las com a teoria disposicionalista e contextualista, em escala individual, de Bernard Lahire. No estoque conceitual, metodológico e empírico de Bastide foi possível encontrar um conjunto de problemas encarados por ele que tangenciam as questões enfrentadas hoje por Lahire e pelas chamadas sociologias do indivíduo. Além disso, observou-se que conceitos bastidianos como o “princípio do corte”, indicam relevante potencial para se refletir sobre a teoria de Lahire, mormente no que diz respeito à subjetividade dos indivíduos. Este artigo apresenta, em um primeiro momento, o arcabouço conceitual e teórico que alicerça a obra de Bastide, para em seguida discutir as aproximações com a teoria de Lahire e indicar as potenciais contribuições ao debate entre o clássico e o contemporâneo. Cabe dizer que as reflexões germinais trazidas neste trabalho foram suscitadas por um desafio do pensamento apresentado por situação concreta de pesquisa que vem sendo empreendida pelos autores, na qual se busca traçar retratos sociológicos de professores universitários e compreender a possível articulação entre disposições científicas e religiosas em seus esquemas disposicionais. A construção já do primeiro retrato trouxe à tona alguns questionamentos importantes. O recuo inicialmente despretensioso até Bastide levou-nos a aprender, na sua pluridisciplinaridade, que falta à sociologia em escala individual uma maior atenção e entendimento sobre a subjetividade do indivíduo, sem ela o “homem plural” é uma expressão diminuída.