O PASSADO À ESPREITA, A HISTÓRIA EM ALERTA: UMA LEITURA HISTORIOGRÁFICA DO FILME INCÊNDIOS, DE DENIS VILLENEUVE
Abstract
A história começa por um reconhecimento: de dentro da piscina, com a visão ao nível d’água, Nawal observa os pés das pessoas de fora, e enxerga a marca inconfundível tatuada no calcanhar direito do filho no dia de seu nascimento. Eles haviam estado separados por muito tempo, e agora se reuniam por esse desnível do olho. Mas Villeneuve não começa por aí. Para entender este confronto, é preciso partir do passado. Nawal, de família cristã, nascida em um país dividido pelo conflito étnico, nação não nomeada, emuladora dos conflitos no Oriente Médio, significante sem significado, engravida de um refugiado muçulmano, este, morto pelos irmãos de Nawal ao saberem do romance. O bebê, que nasce em segredo graças à interferência da bisavó, é levado para um orfanato, não sem antes receber uma marca distintiva, três pontos tatuados na vertical do calcanhar, reticências invertidas – um sinal de despedida ou uma promessa de reencontro? Nawal, de fato, promete reencontrá-lo.