APRESENTAÇÃO/PRESENTATION
Resumo
Esse dossiê da Vivência: Revista de Antropologia trata de uma atividade
corriqueira e presente no Brasil desde tempos imemoriais: a pesca. Ainda
que seja vivenciada de norte a sul de nossos mais de seis mil quilômetros de
costa marítima e de leste a oeste nos incalculáveis percursos de água doce,
apesar de importantes esforços, a pesca não tem merecido da Antropologia
feita no Brasil uma atenção equivalente a sua onipresença. Ainda que apresentada
em muitas monografifi as clássicas, são poucos os trabalhos que enfocaram
exclusivamente a pesca. Raymond Firth, em Malay Fishemen (1946), embora
incluíndo a pesca nas sociedades camponesas, considerou como características
estruturais de seu processo de trabalho que a rápida degradação de “produto”, o
peixe, implicou no desenvolvimento de técnicas mais especializadas de conservação
e sua entrada rápida no comercio mais amplo. Ou, como não recordar, por
exemplo, que em sua obra seminal Argonautas do Pacífifi co Ocidental (1922),
Malinowski, ao realizar etnografifi a entre trobiandeses insulares, perecebe que
a pesca é reveladora de todo um conjunto de atividades e práticas rituais associadas
a ela, confifi gurando-se como um dispositivo de fundamental importancia
para o entendimento da vida social daquele povo. Assim, em apropriações mais
recentes, com características de uma economia especializada, a pesca tem sido
compreendida, muitas vezes, como um trabalho secundário complementar à
atividade agrícola (BECK, 1979; ACHESON, 1981; DIEGUES, 1983) ou ao
turismo (RIAL & GÓDIO, 2006).