O virtuoso útil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36025/arj.v10i1.31798

Palavras-chave:

virtude, virtuoso, retórica musical, Johann Mattheson, Francesco Geminiani

Resumo

Nas práticas musicais contemporâneas, termos como virtuoso ou virtuose são, com frequência, empregados com vistas à qualificação de instrumentistas ou cantores cujas habilidades técnicas avançadas se destacam pelo aparente apelo do impossível, do inconcebível e do inexplicável. Tal conceituação de virtude coaduna-se às correntes de pensamento oitocentista, e está tradicionalmente associada à ideia de gênio. No presente texto, procuramos recuperar as acepções de virtude próprias ao século XVIII. Traçamos um histórico do termo, visando recontextualizá-lo no âmbito de escritos de dois teóricos musicais setecentistas: o alemão Johann Mattheson (1681-1767) e o ítalo-britânico Francesco Geminiani (1687-1762). Nesse sentido, fica claro que a ideia de virtuosismo não se restringe às habilidades no instrumento ou na voz, mas tampouco se refere à esfera do inexplicável: ela depende, sobretudo, das condutas morais em constante processo de aperfeiçoamento.

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Biografia do Autor

Marcus Held, Universidade de São Paulo (USP)

Marcus Vinícius Sant'Anna Held Neves é violinista, violista e pesquisador especializado na música dos séculos XVI, XVII e XVIII com uma agenda ocupada como recitalista, spalla convidado e palestrante em diversas ocasiões ao redor do Brasil. Doutor em Musicologia pela Universidade de São Paulo, USP, instituição na qual atualmente realiza pesquisa em nível de Pós-Doutorado, é responsável pela primeira tradução à língua portuguesa da integral da obra tratadística de Francesco Geminiani (1687-1762). Professor Especialista Visitante no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro-pesquisador do Grupo de Estudos da Performance de Instrumentos de Cordas (GEPinC – Unicamp), spalla do EOS – Música Antiga USP (São Paulo) e da Trupe Barroca (Espírito Santo), violista da Cibele Camerata (Rio de Janeiro) e professor de Violino Histórico, História da Música e Música de Câmara no Conservatório de Tatuí. Idealizador e fundador do Música Pretérita, projeto dedicado à divulgação da pesquisa em música ao grande público (Instagram).

Mônica Lucas, Universidade de São Paulo (USP)

Mônica Isabel Lucas graduou-se em Música pela Universidade de São Paulo e especializou-se na interpretação da música antiga no Conservatório Real de Haia (Holanda), obtendo Diplomas em flauta-doce e em clarinetes históricos. Realizou seu doutorado em Musicologia (música antiga) na Universidade Estadual de Campinas, Unicamp. É professora livre-docente do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA-USP. Seu trabalho acadêmico-musical envolve a pesquisa e a reflexão sobre gosto e estilo no repertório do século XVIII e inclui, além de livros e artigos sobre a música setecentista, a prática musical. Assina, desde sua fundação, a direção artística do Conjunto de Música Antiga da USP, focado em parcerias acadêmico-musicais com intérpretes historicamente orientados da Argentina, do Uruguai e do Chile.

 

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Publicado

17-05-2023

Como Citar

NEVES, M. V. S. H.; LUCAS, M. I. O virtuoso útil. ARJ – Art Research Journal: Revista de Pesquisa em Artes, [S. l.], v. 10, n. 1, 2023. DOI: 10.36025/arj.v10i1.31798. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/31798. Acesso em: 21 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Teorias, Poéticas e Práticas da Música Antiga