Dança Contemporânea como prática qualificada e o bailarino como artesão do corpo

Autores

  • Maíra Simões Claudino dos Santos Universidade de Lisboa – ULisboa

DOI:

https://doi.org/10.36025/arj.v7i2.20305

Palavras-chave:

dança contemporânea, Tim Ingold, Richard Sennett, dança como prática qualificada, pensamento em dança

Resumo

O trabalho de alguns artistas da dança contemporânea europeia atual envolve uma abordagem ligada à arte, não se tratando como algo homogêneo, mas como algo responsável por criar potencialidades e novas realidades. Trata-se de um gênero que se constrói durante o curso da vida, com certa semelhança da dança com a manufatura do artesão. A dança contemporânea como prática qualificada e o bailarino como artesão do corpo são conceitos em forma de ideia que surgiram a partir de estudos sobre a obra do antropólogo Tim Ingold e do sociólogo Richard Sennett. Como prática qualificada, o corpo não é visto apenas como uma forma anatômica – mas sim como feixe de afeto. O artigo procura apresentar e compreender o pensamento e as práticas da dança como áreas ligadas à arte, à criação e à pedagogia, questionando também alguns conceitos como técnica, incorporação e cinestesia, dentre outros.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Maíra Simões Claudino dos Santos, Universidade de Lisboa – ULisboa

Maíra Santos é Doutora em Dança pela Faculdade da Motricidade Humana (UL/2019), sob orientação do Prof. Dr. Gonçalo M. Tavares e da Prof.ª Dr.ª Márcia Strazzacappa (FE/UNICAMP), com bolsa Capes Doutorado Pleno no Exterior. Formou-se em danças brasileiras e dança contemporânea nos contextos formais e não formais de estudo. Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Pertence ao quadro de pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre Corpo, Arte e Educação (FE/UNICAMP) e ao grupo Etnografia e História das Práticas Artísticas e Língua das Áfricas (EHPALA/UNIFESP). Atualmente é pesquisadora do Centro de Estudos de Teatro (CET/FLUL) e Pós-Doutoranda em dança (FMH/UL/2020). Como artista da dança atua em trabalhos como coreógrafa, performer e bailarina. Leciona regularmente Dança Teatro para Crianças e Dança Contemporânea para adultos.

Referências

ATKINSON, Paul; HAMMERSLEY, Martyn. Ethnography and participant observation. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. (ed.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks, CA: Sage, 1994. p. 248–261.

BALES, Melanie; NETTL-FIOL, Rebecca. The body eclectic: evolving practices in dance training. Illinois: University of Illinois Press, 2008.

BATSON, Glenna. Update on proprioception: considerations for dance education. Journal of Dance Medicine & Science, v. 13, n. 2, p. 35-41, 2009.

BERGSON, Henri. Matter and memory. New York: Courier Corporation, 2004.

BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma teoria da prática. São Paulo: Ática, 1983.

CARNEIRO, Marília Clemente Gomes. Mucíná wa Maputz *aquela que dança em Maputz*: um estudo do método etnográfico na pesquisa em prática artística em dança contemporânea, em Maputo. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.

CARROLL, Maya Mathilda. Composition and Choreography, Workshop, Tanzfabrik, Berlim. Caderno de campo, 2015.

CVEJIC?, Bojana. Introduction. In: DE KEERSMAEKER, Anne Teresa; CVEJIC?, Bojana. A Choreographer’s Score: Fase, Rosas danst Rosas, Elena’s Aria, Bartók. Brussels: Mercafounds & Rosas, 2012.

EHRENBERG, Shantel. A Kinesthetic Mode of Attention in Contemporary Dance Practice. Dance Research Journal, v. 47, n. 2, p. 43–61, 2015.

FABIAN, Johannes. Power and Performance: Ethnographic Explorations Through Proverbial Wisdom and Theater in Shaba, Zaire. Madisson: The University of Wisconsin Press, 1999.

FAZENDA, Maria José. A dança como visão do mundo: da grande modernidade à época atual. In: LOUPPE, Laurence. Poética da dança contemporânea. Lisboa: Orfeu Negro, 2012.

FIADEIRO, João; EUGENIO, Fernanda. Secalharidade como ética e como modo de vida: o projeto AND_Lab e a investigação das práticas de encontro e de manuseamento coletivo do viver juntos. Urdimento: Revista de Estudos em Artes Cênicas, n. 2, v. 19, p. 61-69, nov. 2012. Disponível em: http://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/3191/2324. Acesso em: 10 dez, 2013.

FONTGALANT, Arthur. Estar Vivo. In: ENCICLOPÉDIA DE ANTROPOLOGIA. São Paulo, Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia, jul. 2017. Disponível em: http://ea.fflch.usp. br/lista-de-verbetes?q=node/80. Acesso em: 20 nov. 2017.

FORTIN, Sylvie. Contribuições possíveis da etnografia e da auto-etnografia para a pesquisa na prática artística. Cena, n. 7, p. 77-88, 2009.

FORTIN, Sylvie. The knowledge base for competent dance teaching. Journal of Physical Education, Recreation and Dance, n. 64, v. 9, p. 34-38, 1993.

FORTIN, Sylvie; GOSSELIN, Pierre. Considerações metodológicas para a pesquisa em arte no meio acadêmico. ARJ – Art Research Journal/Revista de Pesquisa em Artes, v. 1, n. 1, p. 1-17, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/5256.

FOSTER, Susan Leigh (ed). Corporealities: dancing knowledge, culture, and power. New York: Routledge, 2005 [1996].

FOSTER, Susan Leigh. Choreographing Empathy. iBooks. 2011. Disponível em: https://itunes.apple.com/WebObjects/MZStore.woa/wa/viewBook?id= 11047B238E1BA6A06C489C79F17A83E9. Acesso em: 13 fev. 2015.

FRANKO, Mark. History/theory – Criticism/practice. In: FOSTER, Susan (ed.). Corporealities: dancing knowledge, culture, and power. London: Routledge, 2005, p. 25-52.

GIBSON, James. The Ecological Approach to Visual Perception. Boston: Houghton Mifflin Hartcourt, 1979.

GIBSON, James. The Theory of Affordances. In: SHAW, Robert.; BRANSFORD, John. (ed.). Perceiving, Acting, and Knowing. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1977.

GIL, José. Abrir o corpo. In: FONSECA, Tania Mara Galli; ENGELMAN, Selda (orgs.). Corpo, arte e clínica. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

GIL, José. Movimento total: o corpo e a dança. São Paulo: Iluminuras, 2005.

GODARD, Hubert. Le souffle, le lien. Marsyas, n. 32, p. 27-31, 1994.

GODARD, Hubert. Olhar cego. Entrevista com Hubert Godard. In: ROLNIK, Suely (org.). Lygia Clark, da obra ao acontecimento. Somos o molde. A você cabe o sopro. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2006b. p. 73-80.

GODARD, Hubert. Phenomenological space. Contact Quarterly, n. 31, v. 2, p. 30-38, 2006a.

GREINER, Christine. A arte de territorializar e criar a vida. In: GREINER, Christine; SANTO, Cristina Espírito; SOBRAL, Sonia (org.). Cartografia Rumos Itaú, 2015.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mário de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

INGOLD, Tim. Being alive: Essays on movement, knowledge and description. London: Routledge, 2011.

INGOLD, Tim. Beyond art and technology: the anthropology of skill. In: SCHIFFER, Michael Brian (ed.). Anthropological Perspectives on Technology. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2001. p. 17-31.

INGOLD, Tim. Chega de etnografia! A educação da atenção como propósito da antropologia. Educação, v. 39, n.3, p. 404-411, set-dez. 2016. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/21690. Acesso em: 12 mar, 2017.

INGOLD, Tim. Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Editora Vozes. E-book, 2015a

INGOLD, Tim. Making: Anthropology, archaeology, art and architecture. London: Routledge, 2013a.

INGOLD, TIM. O dédalo e o labirinto: caminhar, imaginar e educar a atenção. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 21, n. 44, p. 21-36, jul-dez. 2015b. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832015000200002. Acesso em: 16 nov. 2018.

INGOLD, Tim. Pare, olhe, escute! Visão, audição e movimento humano. Ponto Urbe, n. 3, p. 1-52, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.4000/pontourbe.1944. Acesso em: 30 set. 2017.

INGOLD, Tim. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge, 2000.

INGOLD, Tim. Thinking through Making. Vídeo de 25 minutos postado por Institute for Northern Culture em 31 de out. 2013b. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ygne72-4zyo%5C. Acesso em: 21 de dez. 2015.

INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 18, n. 37, p. 25-44, jun, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832012000100002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 20 nov. 2018.

INGOLD, Tim; HALLAM, Elisabeth. Making and growing: an introduction. In: INGOLD, Tim; HALLAM, Elisabeth (ed.) Making and growing: Anthropological studies of organisms and artefacts. Farnham: Ashgate, 2014.

LEPECKI, André (ed.). Dance: Documents of Contemporary Art. Londres: Whitechapel Gallery, 2012.

LEPECKI, André. Singularities: Dance in the age of performance. London: Routledge, 2016.

LEVI-STRAUSS, Claude. Pensamento Selvagem. São Paulo: Papirus, 1989.

MANTERO, Vera. Corpo Pensante. Workshop. Fórum dança, Lisboa. Caderno de campo, 2015.

MANTERO, Vera; LEPECKI, André. Mergulhar num processo. Workshop, Artistas Unidos, Lisboa. Caderno de campo, 2012.

MARTINS, Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu. Novos estudos, n. 62, p. 163-181, 2002.

MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

NANCY, Jean-Luc. Listening. New York: Fordham University Press, 2007.

NOË, Alva. Action in perception. Cambridge, Massachussets: MIT Press, 2004.

NOVACK, Cynthia Jean. Sharing the dance: contact improvisation and american cultura. Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 1990.

PARKINSON, Chrysa. Self-Interview on Practice. Sarma, Brussels, jun. 2009. Disponível em: http://sarma.be/docs/1336. Acesso em: 16 abr. 2017.

PARVIAINEN, Jaana. Dance techne: Kinetic bodily logos and thinking in movement. Nordic Journal of Aesthetics, v. 15, p. 159-175, 2003.

POTTER, Caroline. Sense of Motion, Senses of Self: Becoming a Dancer. Ethnos. v. 73, n. 4, p. 444-465, 2008.

SANTOS, Maíra Simões Claudino. O treinamento de práticas corporais da dança: de muro à guerreiro, o trabalho com a imaginação na Composição Instantânea de Julyen Hamilton. Cena, Porto Alegre, n. 21, p. 60-74, 2017. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/index.php/cena/article/view/67483. Acesso em: 20 dez. 2017.

SAUTCHUK, Carlos Emanuel. Aprendizagem como gênese. prática, skill e individuação. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 21, n. 44, p. 109-139, dez. 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832015000200109&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 20 mar. 2018; 20/12/2020.

SENNETT, Richard. Richard Sennett on Art and Craft. Vídeo de 57 minutos postado por The Getty Center em 15 de mar. de 2013, realizado em 2009. Disponível em: https://youtu.be/LH1aX_6-xkY. Acesso em: 09 abr. 2019.

SHEETS-JOHNSTONE, Maxine. Body and Movement: Basic Dynamic Principles. In: GALLAGHER, Shaun; SCHMICKING, Daniel. Handbook of phenomenology and cognitive science. New York: Springer, 2010. p. 217-234.

SHEETS-JOHNSTONE, Maxine. The primacy of movement. Philadelphia: John Benjamins, 2011.

SKLAR, Deidre. On Dance Ethnography. Dance Research Journal, v. 23, n. 1, p. 6-10, 1991.

Spångberg, Mårten. Post dance, An advocacy. In: SPANBERGIANISM: a state of mind. Disponível em:<https://spangbergianism.wordpress.com/2017/04/09/post-dance-an-advocacy/>. Acesso em: 10 jan 10, 2017

SPATZ, Ben. What a body can do. Londres: Routledge, 2015.

SUQUET, Annie. O corpo dançante: um laboratório da percepção. In: COURTINE, Jean-Jacques (org.) História do Corpo vol. 3: As mutações do olhar. O século XX. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 509-539.

VARELA, Francisco; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eléanor. L’Inscription corporelle de l’esprit: sciences cognitives et experience humaine. Paris: Seuil, 1997.

WACQUANT, Loic. Esclarecer o Habitus. Educação & Linguagem, São Paulo, ano 10, n.16, p. 63-71, jul-dez. 2007. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/EL/article/viewArticle/126. Acesso em: 10 abr. 2015.

Downloads

Publicado

20-12-2020

Como Citar

SIMÕES CLAUDINO DOS SANTOS, M. Dança Contemporânea como prática qualificada e o bailarino como artesão do corpo. ARJ – Art Research Journal: Revista de Pesquisa em Artes, [S. l.], v. 7, n. 2, 2020. DOI: 10.36025/arj.v7i2.20305. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/view/20305. Acesso em: 26 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Perspectivas Multidisciplinares no Campo da Arte