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O MOVIMENTO INDÍGENA NO BRASIL E A ASCENSÃO DE AUTORAS/ES INDÍGENAS NOS ÚLTIMOS QUARENTA ANOS
Durante décadas os povos indígenas no Brasil foram tratados pelo indigenismo oficial de Estado como seres incapazes e, por conseguinte, passíveis da tutela. Antônio Carlos de Sousa Lima (1995) sugere que esse tratamento se configura como um “grande cerco de paz”. As vozes indígenas nesse contexto tinham pouca ou nenhuma importância no cenário da política nacional, inclusive na tomada de decisões com relação a eles próprios. Os últimos quarenta anos têm apresentado dinâmicas complexas que, de certa maneira, modificaram significativamente esse cenário. Não podemos afirmar que houve uma virada no jogo de poder, e embora haja o constante cerceamento das liberdades, a tentativa de reclusão aos territórios e a negação de suas identidades, os povos originários continuam lutando para ser protagonistas de suas próprias histórias. Isso ocorre em diversos campos que vão da política nacional, passando pelas artes, literatura, ou ainda na condução de ações políticas que dizem respeito à defesa de suas vidas e de seus territórios. Alcida Rita Ramos (RAMOS, 2014, p. 27) pondera que a antropologia seria sábia se seduzisse a intelectualidade indígena a engrossar suas fileiras, de modo a empreender um programa de revitalização, injetando teorias, problemáticas, abordagens e sensibilidades novas numa disciplina que já se vê a caminho da decrepitude. Entendemos que ao descartar essa riqueza, a ciência brasileira se empobrece.
A crescente produção intelectual indígena no Brasil possui uma imbricada relação com a atuação do movimento indígena. Felipe Cruz (CRUZ, 2017, p. 95), entretanto, pondera que esta produção ainda é pouco conhecida e até invisibilizada do grande público. Destaca-se, todavia, que para formar um corpo intelectual os povos indígenas tiveram que forjar trincheiras lutando contra todas as possibilidades, financeiras, linguísticas, logísticas, contra o racismo, o preconceito e outros tantos desafios. Neste sentido, o presente dossiê pretende trazer à luz as contribuições que reflitam sobre o papel dos intelectuais indígenas para a antropologia brasileira e para o enriquecimento intelectual e histórico do Brasil de maneira geral. Assim, pretende-se recepcionar contribuições que reflitam acerca dos/as autores/as indígenas com intuito de compreender a atuação engajada dos mesmos no âmbito do movimento indígena, mas, também perceber o movimento como um espaço privilegiado do exercício da intelectualidade e ainda como uma fonte geradora de saberes de implicações múltiplas.
ARTIGOS
Política padrão de seçãoDOSSIÊ REDES, TERRITÓRIOS, CIDADES
Há alguns anos, um renomado cientista social publicou um livro intitulado “Cidades: a
urbanização da humanidade”, indicando que, com a revolução industrial, o fenômeno
urbano agora significa não uma formação espacial diversa, a cidade e seu hinterland,
estruturando-se consoante os múltiplos arranjos territoriais isolados. O urbano desta
vez se organiza em campos reticulares complexos e articulados, espalhando-se por
espaços que ultrapassam as fronteiras político-administrativas dos Estados nacionais. As
redes territoriais que estruturam as cidades sobrepõem-se aos arranjos tradicionais das
cidades, entrincheiradas em suas peculiaridades espaço-temporais.
As dinâmicas entre redes territórios e cidades guarda, por um lado, uma série de divisões
(da produção, do trabalho, da distribuição, do consumo, entre outras), que conferem
sentido ao modo como a rede urbana é hierarquizada segundo os papéis das cidades.
Por outro lado, expressa inúmeras formas de interações socioespaciais, articuladas por
diferentes tipos de redes sociais, técnicas e urbanas, que permite identificar graus de
heterarquia nas redes urbanas contemporâneas, relativizando a estrutura hierárquica
anterior. Nesse sentido, é a lógica das redes que potencializa as novas formas de
interações urbanas.
O urbano, agora, é um fenômeno que se estrutura principalmente a partir das
complexas redes de sociabilidades estabelecidas no viver cotidiano; a guinada territorial
se apresenta às ciências sociais acopladas à revolução das redes: deve-se compreender
o social primeiramente pelas trajetórias de sociabilidades de seus atores.
Este dossiê pretende trazer contribuições diversas, teóricas ou empíricas, desta agenda
de pesquisa, as redes, os territórios e as cidades. Pretende-se com as contribuições
recebidas, trazer ao debate esta importante temática das ciências sociais
contemporâneas.
DOSSIÊ POLÍTICAS PÚBLICAS, DESENVOLVIMENTO E O PAPEL DO ESTADO NO ATUAL CONTEXTO BRASILEIRO
A discussão sobre desenvolvimento passa a ter importância, do ponto de vista
político e social, após a segunda guerra mundial. Assim, a abordagem teórica do
desenvolvimento é dividida no período de 1945 a 1975, e no período pós anos 70,
de acordo com Niederle e Radomsky (2016), abrangendo a concepção que o aborda
apenas pelo aspecto econômico, considerando-o como sinônimo de crescimento; as
que o descrevem como um processo de mudança qualitativa na sociedade, a partir
de uma análise mais ampla, buscando demonstrar e analisar transformações nas
condições sociais, econômicas, ambientais e culturais; e a abordagem pautada na
expansão das capacidades, segundo a qual, o desenvolvimento é a expansão das
liberdades individuais, por meio do combate as privações sociais, econômicas e
políticas. De acordo com Sen (2010), a introdução da ideia de liberdade no processo
de desenvolvimento é fundamental por duas razões: a primeira é a avaliatória, isto é,
deve-se avaliar o progresso, tendo como parâmetro o aumento das liberdades das
pessoas; a segunda é que o desenvolvimento está sujeito à condição de agente das
pessoas.
Não existe uma compreensão universal do conceito de desenvolvimento,
porém,corroborando com alguns autores, acreditamos que o único desenvolvimento
possível de ocorrer de fato, é o desenvolvimento das pessoas, ou seja, o
desenvolvimento humano.
O dossiê se propõe a receber artigos que objetivem refletir sobre as políticas
públicas enquanto promotoras do desenvolvimento, através de um processo de
mudança qualitativa na sociedade, e não entendendo-o apenas pelo seu viés
econômico e centrado em indicadores quantitativos. Nesse contexto, salienta-se a
importância do Estado na promoção do desenvolvimento em todas as suas
dimensões, especialmente o desenvolvimento das condições de vida das pessoas e
de suas capacidades de serem agentes, isto é, promotor do desenvolvimento
humano. Dessa forma, o dossiê reunirá contribuições que realizem análises amplas
e focalizadas nas transformações das condições sociais, econômicas, ambientais e
culturais que políticas públicas são capazes de promover, dentro de diferentes
escopos de estudos, metodologias e suportes teóricos, com foco na reflexão, análise
e avaliação do papel do estado brasileiro na criação e implementação de políticas
públicas e como promotor dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS).
DOSSIÊ ELEIÇÕES E REPRESENTAÇÃO POLÍTICA: O DEBATE CONTEMPORÂNEO
A realização periódica de eleições para o preenchimento de cargos eletivos e a consequente representação política de grupos sociais daí advinda formam, juntas, importante agenda dentro dos estudos sobre a política. Nos últimos anos, a entrada em cena, nesta arena, de diversos grupos sociais (religiosos, militares, LGBTQ+, indígenas, cotistas etc) tem diversificado tanto a gramática eleitoral-política como a composição de Parlamentos, partidos e governos. Nesse sentido, o dossiê “Eleições e Representação política: o debate contemporâneo” tem por objetivo proporcionar uma diversa reflexões sobre dois fenômenos que, na contemporaneidade, são tocados pelas diversas transformações sociais: as eleições periódicas e a representação política. Para tanto, artigos que versem sobre a discussão teórico-metodológica de estudos
eleitorais (envolvendo o discurso político), teorias sobre a representação política, grupos de interesse, opinião pública em tempos de eleições, novas mídias, representação política de diversos setores, a “Nova Direita” e seus modos de representação, dentre outros temas que toquem diretamente tais questões serão aceitos para publicação.
DOSSIÊ INTERDISCIPLINARIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS
Enquanto campo de estudo das ciências sociais e objeto de planejamento da ação pública e
governamental, as políticas públicas têm uma relevância crucial para o contexto brasileiro, no que se
refere ao atendimento das demandas sociais, bem como, na busca de reduzir as desigualdades sociais
seculares e persistentes no país através da criação de programas de desenvolvimento.
Assim, em um contexto de extrema desigualdade, crise política, econômica, educacional e de um
quase colapso na saúde pública este dossiê se propõe a pensar e discutir as políticas públicas em uma
perspectiva interdisciplinar, pois enquanto campo de estudo das ciências sociais e humanas, permeia
várias áreas de conhecimentos, abarca saberes diversos e permitem uma aproximação e compreensão da
realidade social.
Desse modo, os trabalhos devem estar em consonância com as discussões propostas pelo campo
de debate das políticas públicas, sejam em torno das políticas de desenvolvimento, sociais, saúde,
educacionais, econômicas, entre outras que, no atual contexto brasileiro, venham sendo temáticas de
discussões, conflitos, incertezas, disputas, e que rebatem decisivamente na população como um todo,
sendo esses os que mais sofrem e recebem o maior impacto das ações ou não ações do governo.
DOSSIÊ CRÍTICA DA RAZÃO CIENTÍFICA: SOCIOLOGIAS DO (DES)CONHECIMENTO
O Dossiê “Crítica da Razão Científica: Sociologias do (Des)conhecimento” coloca-se como um convite à ampla reflexão acerca das mudanças, ambivalências e disputas entre ciência e crítica em tempos de pós-verdade e de novos negacionismos, assim como das suas implicações sociais, políticas, éticas e culturais. Serão avaliados textos com heterogêneos fins: reconstrução da crítica à ciência em diversas tradições do pensamento e teoria sociais; abordagens teórico-conceituais e empíricas sobre conhecimento, crítica, pós-verdade, autoverdade e ignorância; revisões reflexivas sobre o lugar da crítica racional à ciência no tempo presente; as relações entre ciência, crítica e ideologia para o diagnóstico da atualidade; pesquisas sociológicas e etnografias sobre políticas do conhecimento, guerras culturais e movimentos anti-intelectuais e seus regimes de verdade.
DOSSIÊ A PANDEMIA DE COVID-19 NA VIDA DE MULHERES
A pandemia da Covid-19, causada pelo Novo Coronavírus ou SARS-CoV-2 desenha um cenário inesperado não só no campo epidêmico-biológico, mas no que concerne aos diagnósticos sociais nos coloca o desafio de compreender seus desdobramentos, considerando impactos não só econômicos, mas também culturais, históricos e políticos sobre os diversos grupos, entre eles, as mulheres. Evidente que muitos de nossos hábitos, formas de convivência, padrões culturais, bem como valores morais são afetados pela experiência pandêmica em curso no mundo.
Nesse sentido, o objetivo deste Dossiê é reunir reflexões acerca do impacto da pandemia de Covid-19 sobre a vida das mulheres. Desejamos reunir análises teóricas, etnográficas e auto-etnográficas a fim de retratar questões específicas que abarcam as vidas das mulheres diante de uma crise repentina que assola os serviços de saúde, o sistema educacional, a saúde física e mental, a economia com seus modos de produção e consumo, a convivência familiar, as relações e condições de trabalho, as relações afetivas, a divisão sexual do trabalho, a liberdade, o deslocamento e, em especial, os modos de vida.
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