Tramas do impedimento: os sentidos da desistência entre alfabetizandos da educação de jovens e adultos
Résumé
A condição de alfabetizado, para jovens e adultos que ainda não conseguem dominar
a leitura e a escrita, “é a coisa mais importante da vida”, “um sonho”. A aprendizagem
escolar é entendida por eles como um saber hegemônico na sociedade
contemporânea letrada. Por isso, entram na escola, buscam deter tal conhecimento e,
através dele, sentir-se inseridos nesta sociedade. Entretanto, no decorrer desse
processo de aprendizagem, vão aos poucos desistindo, o que contribui tanto para
elevar as estatísticas da desistência na Educação de Jovens e Adultos/Eja quanto
para, lentamente, reduzir o contingente de analfabetos do país. A partir dessa
realidade, questionamo-nos sobre as razões ou motivos concretos e simbólicos que
levam à desistência nas classes de alfabetização da Eja. Para tanto, configuramos
nosso objeto de estudo como os sentidos da desistência entre alfabetizandos da Eja,
cuja compreensão é nosso objetivo. A Teoria das Representações Sociais
(MOSCOVICI, 1978, 2004) foi a opção teórico-metodológica para subsidiar a busca, as
análises e as interpretações dos dados, fazendo-nos perceber o significado do objeto
de estudo para esses indivíduos. Para captar tal conteúdo simbólico, realizamos
entrevistas semi-estruturadas com onze alunos desistentes e dez repetentes dessa
modalidade de ensino em escolas públicas de Natal/RN durante o ano letivo de 2006.
A partir das análises temática e categorial (BARDIN, 1977), identificamos elementos
que suscitaram temas. Estes, posteriormente, levaram a três categorias, sugerindo
como sentidos da desistência: dificuldades na aprendizagem por não compreenderem
os conteúdos; exposição do não saber, trazendo à tona os sentimentos de vergonha,
humilhação, constrangimento por não saberem ler e escrever em idade madura;
trabalho/cansaço e doenças. Aqueles que conseguem permanecer na escola são os
que se obrigam a conviver com os “sentimentos de desadaptação”, e os que
desenvolvem com a Instituição uma “adaptação ao avesso”, isto é, a aceitação das
falhas e das omissões institucionais.