O acesso à educação infantil em tempo integral

do direito “público” à judicialização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2022v60n63ID27025

Palavras-chave:

Direito e Hannah Arendt, Judicialização, Educação infantil, Tempo integral.

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar as justificativas mais recorrentes das famílias ao demandarem vagas para seus filhos nas instituições públicas de educação infantil em tempo integral no município de Vitória-ES. Adota como metodologia a análise documental de oito demandas judiciais e extrajudiciais apreciadas pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Justiça. À luz do pensamento de Hannah Arendt, problematiza a relação entre judicialização, direito e política. Os resultados indicam que as solicitações das vagas pelas famílias estão associadas às suas necessidades socioeconômicas, tais como, trabalho intra e extradomiciliar remunerado, situação de vida marcada pelo risco e vulnerabilidade social. Conclui-se que embora o direito à educação infantil seja considerado público sob o ponto de vista constitucional, em um contexto de precarização de vagas, a judicialização da educação conduz o direito a partir de demandas privadas e interesses particulares, sem interlocução pública, o que aproxima o direito ao “mérito da necessidade”.

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Biografia do Autor

Franceila Auer, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo e prof.ª estatutária da Prefeitura Municipal de Vitória (Espírito Santo). É Integrante do Grupo de Pesquisa “Infância, Educação, Sociedade e Cultura”.

Vania Carvalho de Araújo , Universidade Federal do Espírito Santo

Prof.ª Dr.ª da Universidade Federal do Espírito Santo e do Programa de Pós-Graduação em Educação. É Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Infância, Educação, Sociedade e Cultura”.

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Publicado

10-03-2022

Como Citar

Auer, F., & Carvalho de Araújo , V. . (2022). O acesso à educação infantil em tempo integral: do direito “público” à judicialização . Revista Educação Em Questão, 60(63). https://doi.org/10.21680/1981-1802.2022v60n63ID27025

Edição

Seção

Artigos