As vogais médias pretônicas em Minas Gerais e em São Paulo: o Rio Grande como fronteira linguística

Resumo

Este artigo tem como objetivo principal descrever a variação linguística nas margens sul e norte do Rio Grande, observando o comportamento das vogais médias pretônicas, a partir dos princípios da Sociolinguística Variacionista (LABOV (2008[1972]); WEINREICH, LABOV e HERZOG (2006[1968]). Para coleta de dados ao norte do Rio Grande, foram entrevistados 12 informantes de Uberaba, selecionados por amostragem aleatória estratificada. Para a região sul do Rio Grande, foram coletados dados de Igarapava, Franca e Ribeirão Preto, por entrevistas televisivas. Para lidar com o fenômeno, foram utilizadas a variáveis independentes linguísticas natureza da vogal alvo, altura da vogal tônica, distância entre vogal alvo e vogal tônica, e tipo do item lexical; e as extralinguísticas sexo, escolaridade, faixa etária, além da região geográfica para confrontar o sul e o norte do Rio Grande. Para as análises estatísticas, utilizou-se o software GoldVarbX. Os resultados apontaram que a vogal baixa /a/ na sílaba tônica não favorece o abaixamento da pretônica, ficando este gatilho a cargo de outra vogal média baixa. Confrontando os dados mineiros com os paulistas, constatou-se que, ao norte do Rio Grande, o abaixamento é categórico, com peso relativo 0.902; enquanto ao sul do Rio Grande o peso relativo é de apenas 0.015, revelando que o abaixamento da vogal pretônica não é a escolha dos paulistas. Depreende-se, pois, que o leito do Rio não demarca apenas uma fronteira geográfica, mas também uma linha divisória de natureza linguística, no que se refere à escolha do falante pela vogal pretônica como média baixa ou média alta.