Amor, palavra feminina: a constituição da existência lésbica em Amora, de Natália Borges Polesso

Resumo

A vivência lésbica é alvo de apagamento e silenciamento no mundo ocidental, especialmente pela implementação do regime heterossexual como manutenção da colonialidade (Curiel, 2011). Esse não-lugar ocupado pela mulher lésbica é representado na coletânea de contos Amora (2015), de Natalia Borges Polesso. Analisando três contos específicos – Flor, flores e ferro retorcido, Primeiras vezes e Vó, a senhora é lésbica? –, este artigo investiga a constituição da vivência lésbica por meio de uma perspectiva interseccional (Akotirene, 2019; Collins; Bilge, 2016), considerando as diferentes faixas etárias e geracionais das personagens. Dentro do paradigma transdisciplinar da Linguística Aplicada Transviada (Bezerra, 2023), adotamos a Análise Crítica do Discurso (ACD) como abordagem teórico-metodológica, assim como os estudos de gênero (Butler, 2021; Rich, 2010) e descoloniais (Maldonado-Torres, 2016; Menezes de Souza, 2019; Mignolo, 2003; Quijano, 2005), para subsidiar as discussões. Nestas análises, evidenciamos a forma como a linguagem constrói discursivamente noções sobre questões socio-identitárias, produzindo violências como lesbofobia, repressão e etarismo. Desse modo, os resultados revelam a complexidade dessas vivências lésbicas, atravessadas pela interseccionalidade e marcadas por estigmas sociais, heteronormatividade compulsória e silenciamentos. Por fim, o trabalho também ressalta a importância de criar espaços de visibilidade para as narrativas lésbicas, reconhecendo seu papel fundamental na construção de uma memória social mais inclusiva e plural ao questionar as estruturas de poder que silenciam identidades não-heteronormativas.