Itinerários do capital rentista e da globalização, segundo Karl Marx

Résumé

O fenômeno da “globalização” vem seduzindo inúmeras análises na esfera das Ciências Sociais. Parte destas reflexões tentam conferir prova de validade inconteste à tese liberal da eterna suscetibilidade do homem às trocas. Assim, a globalização aparece como um estágio superior dessa pulsão humana pelo mercado e pela concorrência, inexistindo para sempre, no homem, quaisquer vestígios que apontem para a potencialidade de uma sociedade comunal solidária. Inegavelmente, o quadro socioeconômico da maioria dos países situados na periferia do sistema do capital não coaduna com os supostos benefícios largamente difundidos pelos entusiastas da “aldeia global” das mercadorias. Com efeito, houve repercussões desse fracasso pela hipertrofia do mercado, como realizador das necessidades humanas no campo político latino-americano, inclusive, com rupturas ou adaptações de coalizões de centro-direita, antes inimagináveis, atestando a incapacidade dos pressupostos neoliberais no que se refere à gerência de políticas públicas centradas nas demandas sociais. Fenômeno este bem representado, inequivocamente, sobretudo, nos casos do Equador, da Venezuela e da Bolívia, bem como, de forma mais tímida, na Argentina e no Brasil. Na verdade, a globalização assume contornos de uma evidente fase de acumulação capitalista com predominância da financeirização econômica. Tal perspectiva encarna a possibilidade de impor novas regras às relações internacionais como forma de suprir as necessidades da livre movimentação do capital. Neste sentido é que o legado de Marx, principalmente, os seus escritos de crítica à economia política, disponibiliza uma farta munição teórica aos que perseguem, do movimento do abstrato ao concreto, trilhas analíticas para a compreensão dos atuais desdobramentos do sistema metabólico do capital, com destaque para a atual tendência à financeirização econômica e à acumulação rentista.