CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS V.7, N.1 (2025)

02-01-2025

Tratar das formas e dos limites da dizibilidade e de suas memórias, conservações, validades, reativações e reapropriações, mais ou menos modificadas, formadas e transformadas na história e na sociedade é tarefa imperativa para se discutir e compreender os modos pelos quais sentidos e sujeitos, verdades e condutas são constituídos. Essas formas e limites se estabelecem em condições históricas de emergência, nas quais ocorrem consensos e conflitos próprios de relações de força, de poder e de sentido.

 

Não há dúvidas do papel crucial aí desempenhado pela discursividade, uma vez que os discursos são materialização privilegiada das ideologias e elementos fundamentais da constituição dos laços entre saberes e poderes, por meio dos quais se dão as lutas entre classes, grupos e sujeitos de uma sociedade. Mas esse seu papel crucial se deve ainda ao fato de que o discurso é objeto de desejo e de poder. Ele não apenas manifesta ou oculta o desejo, mas também é em si mesmo algo desejado. De modo semelhante, ele não apenas encarna e reflete as alianças e os embates sociais, mas também consiste em algo de que queremos nos apoderar[1].

 

Outro princípio avançado por Foucault é aquele segundo o qual “o enunciado é sempre um acontecimento, que nem a língua nem o sentido podem esgotar inteiramente”[2]. Sua afirmação buscava dar relevo justamente às condições históricas de emergência de discursos do saber, que não se confundiam com nem se reduziam às regras formais da língua em que os enunciados são formulados, assim como não se confundiam com nem se reduziam aos sentidos ora mais ora menos ocultos do que fora dito. Na esteira dessa ideia foucaultiana, podemos reconhecer que os enunciados não se esgotam nem na língua nem nos sentidos também porque neles se encontram palavras, poderes e paixões, que concentram em si forças e dinâmicas constitutivas de nossos pensamentos e de nossas ações, de nossos dizeres e de nossos desejos, de nossos sentidos e de nossos sentimentos.

 

Em larga medida, muitos estudos do discurso consideram-no como algo desafetado, produzido e difundido, recebido e interpretado fora de partilhas materiais da sensibilidade. Trabalhos feitos no campo da argumentação dispensam frequentemente particular atenção às emoções no discurso, mas tendem não raras vezes a reduzi-las a estados “tímidos” e “fásicos” presentes num texto ou numa interlocução. Por sua vez, os afetos, as sensações e as sensibilidades não foram e ainda não são um objeto privilegiado pela Análise do discurso. Em que pese o considerável conjunto de seus avanços, as percepções sensoriais e as paixões sociais e subjetivas tiveram importância bastante reduzida no exame da discursividade até muito recentemente. Essa situação ainda não se alterou profundamente.

 

Por essa razão, lhes consagramos duas edições do Colóquio Internacional de Análise do Discurso (CIAD) e a publicação de uma obra coletiva, além de alguns outros estudos e publicações anteriores[3]. Uma vez que essa espécie de lacuna dos estudos do discurso ainda está muito distante de ser preenchida, julgamos que a Revista Saridh pode contribuir para a redução da escassez de reflexões e análises discursivas sobre as relações entre os discursos, os afetos, as sensações e as sensibilidades, mais ou menos articuladas com a produção de sentidos e sujeitos e com a constituição histórica, a formulação simbólica e a circulação social dos enunciados dos mais variados campos institucionais, dos mais diversos gêneros do discurso e das mais distintas posições discursivas. Desse modo, com grande satisfação, abrimos espaço para o acolhimento de propostas de artigos científicos, entrevistas, relatos de experiências profissionais, que tratem direta ou indiretamente da temática Discurso, sensações e sentimentos.

 

Assim, enseja-se publicar textos que, em diálogo com a linha editorial do periódico, priorizem reflexões sobre dados e fatos diversos dos discursos que compreendam mais ou menos direta e mais ou menos manifestamente a partilha material das sensibilidades.

 

A revista aceita artigos (originais e inéditos) cuja submissão poder ser feita na seção temática e também na seção livre ou, ainda, na modalidade de relatos de experiências docentes. Nesta última, são aceitos trabalhos que enfatizem a prática pedagógica em qualquer nível de ensino e que evidencie, notadamente e no bojo da efetividade pedagógica, o embasamento teórico-metodológico no universo das Letras.

 

O prazo de submissão se estende até 02 de março de 2025 e as normas e diretrizes de publicação estão disponíveis no sítio eletrônico da revista, alojado no portal de periódicos da UFRN. Todo o fluxo de submissão e comunicação com autores, editores e avaliadores, é realizada diretamente via OJS, ou em caráter excepcional, via endereço eletrônico do periódico. Para proceder com a submissão de trabalhos, o autor deve acessar o endereço https://periodicos.ufrn.br/RevSaridh e seguir os passos para criar cadastro de acesso. Outras informações sobre o processo de submissão e organização dos textos, sua disposição tipográfica, organização e layout podem ser acompanhadas na aba Escopo e Normas, através do link: https://periodicos.ufrn.br/RevSaridh/article/view/17903

 

 

Prazo de submissão: até 2 de março de 2025

Site: https://periodicos.ufrn.br/RevSaridh

Contato: revistasaridh@gmail.com

Editor-gerente: Antonio Genário Pinheiro dos Santos

Contato: genario.pinheiro@ufrn.br

 

Organizadores da edição

Prof. Dr. Antonio Genário Pinheiro dos Santos – UFRN

Prof. Dr. Carlos Félix Piovezani Filho – UFSCar

 

[1] Foucault, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2001, p.10.

[2] Foucault, Michel. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997, p. 32.

[3] VI Colóquio Internacional de Análise do discurso (VI CIAD), cujo tema foi Os discursos e as emoções, realizado entre 26 e 27 de maio de 2021 na UFSCar; VII Colóquio Internacional de Análise do discurso (VII CIAD), cujo tema foi Discurso, afetos e sensibilidades, realizado entre 18 e 20 de setembro de 2024 na UFSCar; Piovezani, Carlos; Curcino, Luzmara; Sargentini, Vanice. (Org.). O discurso e as emoções: medo, ódio, vergonha e outros afetos. São Paulo: Parábola, 2024.