No recreio
notas etnográficas sobre o adestramento do corpo e os construtos de gênero
DOI:
https://doi.org/10.21680/1981-1802.2021v59n59ID23046Palavras-chave:
Escola. Corpo. Gênero. Recreio.Resumo
Este artigo propõe uma reflexão sobre um rito escolar no qual os corpos (in)dóceis de meninas e meninos podem, supostamente, se expressar com mais liberdade: o recreio. O que é o recreio, esse intervalo mágico, barulhento e alvoroçado que rompe momentaneamente um continuum feito de prescrições e proscrições? A partir de um olhar etnográfico, percebemos que o recreio também é feito de regras, nem sempre explícitas, que separam, classificam e hierarquizam, concorrendo para o trabalho incessante de adestramento dos corpos na escola. Os jogos e brincadeiras que nele ocorrem são generificados, assim como os espaços nos quais se desenrolam. Da quadra ao pátio, a sanção normalizadora recai de formas distintas sobre os corpos de meninas e meninos, segundo o gênero da transgressão e as transgressões de gênero. Entretanto, apesar da vigilância constante, meninas e meninos resistem, desviam, inventam: tensionam e deslocam as fronteiras de gênero em seus jogos e brincadeiras, testando, de forma lúdica, outras formas de ser e de estar no mundo.
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