Gênero na docência em Física

a pedagogia da pedra contra o labirinto de cristal

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21680/1981-1802.2020v58n58ID22507

Palavras-chave:

Docência em Física. Gênero. Experiência. Discurso.

Resumo

O Brasil tem mais de dois milhões de docentes atuando na educação básica, a maioria mulheres, porém, essa proporção se inverte na área de Física. Com base na Teoria Política do Discurso e nos Estudos Pós-estruturalistas de Gênero, este artigo analisa as lógicas que têm sustentado o discurso de que a Física é uma ciência para (alguns) homens e a emergência de práticas de contestação dessa hegemonia. O corpus foi constituído por narrativas de seis docentes de Física do Agreste de Pernambuco. Os resultados apontam que as lógicas homogeneizadoras dos cânones científicos continuam ativas e reforçam barreiras de gênero que, ao se constituírem como padrões culturais, são naturalizadas. Tais mecanismos reduzem o potencial de vida e trabalho de muitas profissionais, mas, não conseguem suprimir suas existências. Conclui-se que o reconhecimento da ciência como contexto povoado por corpos vivos e expressivos é a principal alternativa para o enfrentamento dos intricados labirintos que continuam a ser erigidos.

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Biografia do Autor

Anna Luiza Araújo Ramos Martins de Oliveira, Universidade Federal de Pernambuco

Professora Associada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Docente do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da UFPE. Possui doutorado em Educação (2009), Mestrado e Graduação em Psicologia (2001 e 1997) pela UFPE. Tem experiência de ensino, pesquisa e extensão na área de Educação, com ênfase nos estudos sobre Teorias pós-estruturalistas, gênero, sexualidade e currículo. Atuou como coordenadora do Programa de Pós-graduação em Educação Contemporânea (PPGEduC/UFPE) entre os anos de 2014/2015. É líder do grupo de pesquisa do CNPq Discurso, subjetividade e educação e membro da Rede Latino-americana de Teoria do Discurso e da Associação Brasileira de Currículo (ABdC).

Ribbyson José de Farias Silva, Universidade Federal Rural de Pernambuco

Graduado em Física - Licenciatura (UFPE). Mestre em Educação Contemporânea (UFPE). Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ensino das Ciências da UFRPE. Membro do Grupo de Pesquisa “Discurso, subjetividade e educação”

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Publicado

16-10-2020

Como Citar

Oliveira, A. L. A. R. M. de, & José de Farias Silva, R. (2020). Gênero na docência em Física: a pedagogia da pedra contra o labirinto de cristal. Revista Educação Em Questão, 58(58). https://doi.org/10.21680/1981-1802.2020v58n58ID22507

Edição

Seção

Artigos