Pathos e argumentação como empoderamento no RAP
DOI:
https://doi.org/10.21680/1517-7874.2019v21n2ID14365Resumo
O presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar a argumentação por meio do estudo das emoções, aplicando as categorias de análise da patemização do discurso propostas por Charaudeau (2010) no rap, mais especificamente nas músicas Bate poeira e Você não vai, de Karol Conka. O objeto de análise foi escolhido tanto devido ao caráter subversivo do movimento hip hop (ao qual o rap pertence), quanto à forma de construção do próprio ritmo, que utiliza raciocínio rápido e lógico para elaboração de suas letras. O debate acerca de questões étnicas, de gênero e sociais na música de Conka foi o fator fundamental para a seleção das canções a serem analisadas. Neste trabalho, situaremos o hip hop historicamente e abordaremos a noção de pathos na argumentação para, assim, analisar o objeto. Entendemos que esse estudo se faz necessário a fim de compreender como as emoções e o possível despertar destas no público pode funcionar a fim de persuadir e/ou difundir uma ideia.
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Referências
Nem toda informação visa intencionalmente a influenciar um auditório. O ato de responder a uma pessoa que nos pergunta as horas dificilmente (salvo má fé) inclui um fim de influência sobre sua crença no tempo. Por outro lado, situações marcadas por conflitos de posições e de crenças, onde virtuais ganhos e vantagens se encontram em jogo, implicam uma outra maneira de ver as coisas. Nesses casos, não estamos na presença de uma simples intenção informativa, pois o roteiro da comunicação se torna bastante importante na realização de ganhos e vantagens. (SOUZA, 2001, p. 157).
O hip-hop “nacional” surgiu, em meados da década de 80, nos salões que animavam a noite paulistana no circuito negro e população dos bairros periféricos e contou, nos seus primeiros eventos, com a forte presença de grupos norte-americanos e alguns expoentes brasileiros. Mobilizando no início apenas a juventude negra e trabalhadora da cidade, o hip-hop hoje está organizado em grupos, associações, “posses” e pequenas gravadoras, vem difundindo-se e atraindo boa parte da população jovem e constitui importante segmento de mercado. (HERSCHMAN, 2005, p. 25).
“os b-boys e outros grupos que se alinham ao movimento negro (como os charmeiros) acusam o funk de produzir uma música despreocupada, que promove apenas o entretenimento.” (HERSCHMAN, 2005, p. 28)
Para que uma tese consiga adesão de um auditório, ela necessita, de certa forma, estar em conformidade com as crenças desse auditório ou, a fortiori, com o que esse auditório é capaz de admitir como sendo racional. A relação entre o orador (locutor) e o auditório (receptor) torna-se assim essencial. (…) A relação fundamental, que associa o orador e seu auditório numa certa dimensão de conivência e regulação, encontra-se presente na maioria dos trabalhos modernos sobre a comunicação humana. (SOUZA 2001, p. 163).
As coisas apresentam-se, diferentemente, no caso da dimensão argumentativa, em que a estratégia de persuasão é indireta e, muitas vezes, não admitida. Ela aparece na verbalização que produz um discurso cujo objetivo declarado é outro e não o argumentativo: um discurso de informação, uma descrição, uma narração cuja vocação é contar, o registro de uma experiência vivida em um diário de viagem ou um diário, um testemunho que relata o que o sujeito viu (...). Portanto, o que é importante é identificar e analisar a maneira como esses discursos destinados a, antes de tudo, informar, descrever, narrar, testemunhar, direcionam o olhar do alocutário para fazê-lo perceber as coisas de uma certa maneira. (AMOSSY, 2017, p 132).
“O sujeito que argumenta passa pela expressão de uma convicção e de uma explicação que tenta transmitir ao interlocutor para persuadi-lo a modificar seu comportamento”. (CHARAUDEAU, 2008, p. 205)
“as emoções são de ordem intencional, estão ligadas a saberes de crença e se inscrevem em uma problemática da representação psicossocial.” (CHARAUDEAU, 2010, p. 2).
“o sujeito falante recorre a modos de organização discursiva seguindo uma racionalidade tanto narrativa quanto argumentativa ao mesmo tempo em que lança a hipótese na qual outro poderá reconhecê-los e aderir a eles.”. (CHARAUDEAU, 2007, p. 245).
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