Gênero na docência em Física
a pedagogia da pedra contra o labirinto de cristal
DOI:
https://doi.org/10.21680/1981-1802.2020v58n58ID22507Palavras-chave:
Docência em Física. Gênero. Experiência. Discurso.Resumo
O Brasil tem mais de dois milhões de docentes atuando na educação básica, a maioria mulheres, porém, essa proporção se inverte na área de Física. Com base na Teoria Política do Discurso e nos Estudos Pós-estruturalistas de Gênero, este artigo analisa as lógicas que têm sustentado o discurso de que a Física é uma ciência para (alguns) homens e a emergência de práticas de contestação dessa hegemonia. O corpus foi constituído por narrativas de seis docentes de Física do Agreste de Pernambuco. Os resultados apontam que as lógicas homogeneizadoras dos cânones científicos continuam ativas e reforçam barreiras de gênero que, ao se constituírem como padrões culturais, são naturalizadas. Tais mecanismos reduzem o potencial de vida e trabalho de muitas profissionais, mas, não conseguem suprimir suas existências. Conclui-se que o reconhecimento da ciência como contexto povoado por corpos vivos e expressivos é a principal alternativa para o enfrentamento dos intricados labirintos que continuam a ser erigidos.
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