Gênero na docência em Física
a pedagogia da pedra contra o labirinto de cristal
Resumo
Neste artigo discutimos, a partir de narrativas de professoras e professores do ensino médio, como o gênero atua na experiência da docência em Física. Através da interrogação de acontecimentos recentes e antigos, questionamos as lógicas que têm sustentado o discurso de que a Física é uma ciência de/para (alguns)homens e indicamos a emergência de práticas de contestação dessa hegemonia. Concebemos experiência como ação simbólica de produção de sentidos sobre a realidade e lugar de constituição de subjetividades. Partimos da perspectiva que as proposições sobre gênero são atravessadas por relações de poder e se constituem em contextos políticos. Concluímos apontando que os rastros homogeneizadores dos cânones científicos que reduzem potências de vida não conseguem suprimir suas existências e que o reconhecimento da ciência como local povoado por corpos vivos e expressivos é a principal alternativa para o enfrentamento dos intricados labirintos que continuam a ser posicionados no caminho das novas gerações.
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