Os territórios do hospício e o domínio da loucura na imaginação literária de Guillermo Rosales
DOI:
https://doi.org/10.21680/1517-7874.2021v23n1ID23777Resumo
A trajetória biográfica do escritor cubano Guillermo Rosales é atravessada por um extenso histórico de violência, desajustes e frustrações. Perseguido por vozes e visões que o atormentavam, Rosales foi diagnosticado com esquizofrenia ainda durante a adolescência, tendo passado por diversas instituições psiquiátricas ao longo da vida. Parte dessas experiências estão expostas em sua obra de maior destaque, o romance Boarding Home, publicado originalmente em 1987. No livro, Rosales dá voz a seu alter ego, o protagonista William Figueras, escritor exilado da ilha de Cuba que narra sua rotina na condição de interno em um sanatório particular nos Estados Unidos. O personagem expõe os abusos, as situações precárias do hospício e as constantes agressões físicas e psicológicas às quais ele e outros pacientes são submetidos, descrevendo um cenário no qual os sujeitos tornam-se progressivamente despojados de individualidade. Assim, tomando como referência o espaço asilar do manicômio e seu contexto de aniquilação de subjetividades, este artigo busca refletir sobre as dinâmicas de deterioração identitária no mundo do internado e os processos de desfiguração pessoal aplicados ao regime de confinamento na home. Nessa perspectiva, mobilizam-se os pressupostos teóricos do sociólogo canadense Erving Goffman (1987), nas discussões acerca das instituições totais, e os principais mecanismos de mortificação associados a tais estabelecimentos. As análises foram realizadas com base na edição original do romance, publicada pela editora espanhola Siruela, em 2003. Argumenta-se que a Boarding Home, enquanto suposta casa de saúde mental, desvia-se gravemente de sua finalidade terapêutica, na medida em que os personagens incorporam e reproduzem a violência da estrutura institucional que os suplicia. Nessas circunstâncias, compreende-se que o espaço manicomial não opera como local de acolhimento ou cuidado, mas como engrenagem de opressão, abandono e extermínio de vidas humanas.
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