Estilhaços do discurso amoroso na ficção histórica decolonial de Maryse Condé
DOI:
https://doi.org/10.21680/1517-7874.2024v26n1ID33152Resumen
O texto analisa o romance Eu, Tituba, bruxa negra de Salém, de Maryse Condé, segundo elementos semânticos presentes na narração, os quais, por um lado, a aproximam de um padrão narrativo clássico e, por outro, trazem componentes singulares relacionados a determinado ponto de vista de que se vale o relato. Pontua, no texto, episódios nos quais a protagonista vivencia o amor, aqui entendido como pulsão afetiva que enseja determinadas atitudes nas diferentes interações sociais. Enquanto formulação literário-discursiva, tal noção aparece estilhaçada em situações constituintes de sua jornada. Fragmentação essa que parece indicar as intensas contradições emocionais vividas por Tituba, seus conflitos internos, frutos de sua condição de mulher, afrodescendente, sobrevivendo em uma sociedade colonial, escravista e patriarcal. O que torna o estudo de bell hooks, Tudo sobre o amor: novas perspectivas, essencial para entender tais processos de superação e de resiliência na decisão de amar e ser amada, conforme manifesta por Tituba, em meio a um atribulado percurso existencial. A contribuição de Roland Barthes, em Fragmentos de um Discurso Amoroso, corresponde à seleção de indicadores semânticos do desenvolvimento do tema-assunto, sugerindo, outrossim, caminhos interpretativos para tais índices, presentes no romance em estudo bem como na literatura canônica universal, conforme farta documentação do semiólogo francês. Como roteiro metodológico, são utilizadas as abordagens sugeridas por Abrams (2010), a saber, expressiva, mimética, objetiva e pragmática, que relacionam os tópicos pontuados na obra de Condé, respectivamente, a dados biográficos da autora; contextuais em relação à história narrada; estruturais; bem como aos usos que a narrativa tem ensejado na discussão sobre diáspora africana, feminismo negro e decolonialidade. E, por fim, destacam-se aspectos relevantes para a percepção da obra da escritora guadalupense como essencial ao estudo da formação das sociedades, a partir de uma lógica contra-hegemônica e em meio a processos antirracistas de revisão histórica.
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